Desde as previsões da ocorrência do fenômeno El Niño (com chuvas abundantes e bem distribuídas) no decorrer da safra 2009/2010, o otimismo tomou conta de produtores, assistência técnica e pesquisadores diante da perspectiva de uma safra recorde. E apesar das estimativas parciais apontarem para a super safra, o surgimento de focos da ferrugem asiática – decorrente do excesso de umidade – cuja ocorrência já está generalizada, começa a preocupar.
De acordo com Cláudia Godoy, fitopatologista da Embrapa Soja, além de favorecer o aparecimento da doença, a chuva prejudica a adoção de práticas adequadas. “Não há intervalo de chuva para que o produtor faça a aplicação de fungicida, necessária neste momento”, afirma. “Com o atraso na aplicação, a doença continua a se multiplicar. É difícil encontrar lavoura sem ferrugem”, diz. A pesquisadora relata que alguns tentam fazer a aplicação dos produtos nos raros momentos de estiagem, mas a chuva subsequente acaba “lavando” o fungicida recém-aplicado.
A soja sofre ainda a ameaça de outras doenças fúngicas, como crestamento e septoriose, que devem ser controladas com fungicidas. O excesso de chuva pode também provocar problema na colheita. De acordo com Cláudia, a umidade do solo dificulta a entrada de máquinas na lavoura.
A despeito das preocupações com doenças, as estimativas de produção e produtividade são animadoras. Segundo José Renato Bouças Farias, ecofisiologista da Embrapa Soja, a cultura necessita de bom volume de chuva em três fases: na semeadura, na germinação e emergência (de 5 a 10 dias após o plantio) e na floração e enchimento de grão (de 45 a 60 dias).