A ameaça de quebras de safra provocadas pelo excesso de chuvas levou o mercado a formar estoques que, com a demora na resposta do atacado e varejo, começam a pressionar os preços. Mesmo com fundamentos que apontam para uma alta contínua, a cotação de algumas commodities parece ter atingido uma barreira psicológica. É o caso do arroz, que após nove semanas registrando consecutivas elevações, começa a registrar quedas. Nos primeiros três dias de fevereiro, o preço do cereal caiu 4,11%, segundo o Indicador do Arroz Cepea-Bolsa Brasileira de Mercadorias/BVM&F (Rio Grande do Sul, 58 grãos inteiros).
De acordo com pesquisas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), grande parte das beneficiadoras gaúchas esteve retraída, com pouco interesse de compra. Algumas empresas reduziram o valor de aquisição enquanto outras nem chegaram a ofertar preço. As indústrias se queixam do desaquecimento das vendas no atacado e varejo que, nas duas semanas anteriores, se abasteceram comprando arroz beneficiado.
O aumento nos estoques afeta a venda de milho e trigo desde a última safra. Juntas, as duas culturas, exigiram do governo um investimento de quase R$ 2 bilhões em 2009 para escoar a produção, sendo R$ 1,5 bilhão em leilões de milho. O acúmulo de mais de 11 milhões de toneladas do grão nos armazéns, além de pressionar os preços, já começa a prejudicar o armazenamento da soja, cuja colheita avança no Mato Grosso. Por uma coincidência infeliz, o Estado também responde pela maior volume de milho estocado, cerca de 4 milhões de toneladas. Com os estoques altos, a região registrou nesta semana a menor cotação para o produto, R$ 6,60 a saca.
No próximo dia 11 a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realiza mais um leilão para escoar 160 mil toneladas. “Com a produtividade aumentando e sem diminuição da área cultivada, é importante que o produtor enxergue nas exportações uma boa alternativa para continuar plantando milho”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), João Carlos Werlang. Ele destaca que, além dos altos estoques de passagem, a alta produtividade da safrinha ajudaram a derrubar os preços do grão que, só em janeiro, acumulou queda de 5,15%. Nos primeiros quatro dias de fevereiro a retração já é de 1,73%.
Os triticultores também querem ajuda. Temendo a suspensão dos leilões de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) de trigo do governo federal, a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) pediu ao Ministério da Agricultura R$ 500 milhões para mecanismos de comercialização, especialmente Aquisição do Governo Federal (AGF). Segundo a entidade, a verba permitiria escoar as 500 mil toneladas encalhadas da safra 2009 e fazer capital de giro para investir na safra 2010, cuja aquisição de insumos começa em março. De acordo com Hamilton Jardim, presidente da comissão de trigo da Farsul, o mercado está parado devido ao abastecimento dos moinhos. Além do saldo de 2009, existem outras 250 mil toneladas produzidas em 2008 em armazéns gaúchos.
O cenário que aponta para reversão nos preços, apesar de fundamentos positivos, não é exclusividade dos grãos. Após sete semanas em alta, o preço do etanol hidratado recuou 1% no mercado paulista na última semana. Segundo pesquisadores do Cepea, distribuidoras seguiram trabalhando com produto em estoque e poucas usinas estiveram ativas no mercado spot. .
Funrural
Os agricultores poderão deixar de recolher a contribuição sobre a comercialização de 2,1% e repetir os valores indevidamente recolhidos, atualizados pela taxa selic (taxa básica de juros). O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu na última quarta-feira o julgamento pelo recurso extraordinário nº 363.852, comprovando a inconstitucionalidade do desconto sobre a comercialização dos produtos rurais. “É possível aos produtores rurais, desde que ajuízem a medida judicial própria, evitar a retenção feita pelas cooperativas, frigoríficos e agroindústrias, no percentual de 2,1% do resultado de sua comercialização”, destaca Fábio Calcini, advogado do Escritório Brasil Salomão e Mathes Advocacia.