Afetados pelo câmbio, os exportadores viram a rentabilidade de suas vendas ao exterior cair com força, embarcaram um volume menor de produtos e conviveram com preços deprimidos em 2009. O pior é que esse cenário tende a se agravar em 2010, quando o saldo comercial deve ceder dos US$ 25,3 bilhões verificados no ano passado para US$ 8 bilhões, segundo cálculos da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Com a queda do dólar diante do real, a rentabilidade das exportações caiu 19,6% no ano passado. É que os exportadores, principalmente de manufaturados, têm seus custos atrelados ao real, mas recebem menos dólares por seus produtos vendidos ao exterior com a desvalorização da moeda. “Não existe espaço para mudança da taxa de câmbio, e a tendência é que a perda de rentabilidade se agrave porque agora os preços das commodities começaram a cair também”, afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Castro prevê que, diante da retomada forte da economia neste ano -com crescimento estimado do PIB em torno de 5%- e da manutenção de um câmbio desfavorável, muitas empresas vão deixar de exportar e focar sua atuação no mercado doméstico. Tal movimento, afirma, já ocorreu em 2009 -quando preços e quantidades exportadas despencaram- e tende a se intensificar neste ano. De acordo com a Funcex, houve retração do volume exportado -de 10,7%- e recuo dos preços dos produtos -de 13,4%, em média. Somados, esses dois fatores provocaram a queda de 23% das exportações no ano passado, diz a fundação em seu boletim. “Hoje, já não compensa mais exportar em muitos setores. É mais rentável vender no Brasil, principalmente para ramos intensivos em mão de obra, como móveis, vestuário e calçados”.
Segundo Castro, o país importará mais neste ano graças ao aumento rápido do consumo, atendido parcialmente pelo mercado externo -ainda mais num cenário de câmbio favorável às importações. Pelas estimativas da Funcex, as importações vão subir 20%, num ritmo maior do que a expansão das exportações -de apenas 8,5%. Castro diz que o saldo no ano passado só não foi menor porque a economia brasileira se contraiu e demandou menos produtos do exterior -as importações recuaram 26,3%, com mais intensidade do que as exportações. Agora, diz, a situação se inverteu e haverá um processo mais forte de troca de insumos e produtos nacionais por importados.
Roberto Giannetti da Fonseca, diretor-titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, declara que o “problema central do exportador brasileiro é o câmbio” e cobra uma atuação “ativa e inteligente” do Banco Central para conter a especulação no mercado e a sobrevalorização da moeda brasileira. “O setor exportador vive uma grave e aguda crise, e o governo parece não perceber que temos um problema estrutural sério. Vamos voltar a uma indesejável situação de elevados deficit em conta-corrente em pouco tempo se o saldo comercial continuar a cair”.