A Embrapa Suínos e Aves de Concórdia, em Santa Catarina, trabalha com o melhoramento genético de várias raças. Entre elas, está o porco moura. A reportagem da série dos dez anos do Globo Rural diário mostra as características desse animal que desperta interesse dos mercados europeu e japonês. Gado crioulo lageano e ovelha preta. O criador Assis Almeida Camargo tem um carinho todo especial por animais de raças não muito fáceis de encontrar. O bovino crioulo lageano chama a atenção pelo porte e os chifres alongados. As ovelhas também não são das mais comuns, a começar pela cor da lã. Por causa do pouco rendimento de carcaça, o produtor não pensa em lucro, mas mantém o rebanho com pouco mais 150 cabeças como um diferencial da fazenda. E ele não para por aí.
A propriedade em Ponte Alta, na serra catarinense, guarda algo raro de se encontrar hoje em dia: suínos da raça moura. São animais bastante rústicos que puros não têm muito valor comercial. Mas isso é o que menos importa para o criador que mantém um plantel de seis, sete suínos desde 1960. “O interesse nesse tipo de criação é por causa da manutenção da raça e auxílio na pesquisa para melhoramento de outras raças suínas”, justificou seu Assis. Remanescente de raças ibéricas, o moura se adaptou bem em várias regiões do país. Por causa das lavouras, o reprodutor e as quatro matrizes são mantidos fechados. Eles se alimentam de pasto e, no máximo, com um pouco de milho. O abate para o consumo na propriedade é só de leitões. Animais com até 45 dias e com rendimento de até 12 quilos de carne. Já o suíno moura adulto pode pesar mais de 180 e, além da carne, a banha é aproveitada.
Graças à iniciativa do seu Assis, hoje é possível avançar nos estudos da raça. A partir de um macho que saiu da propriedade, os pesquisadores estão descobrindo novas alternativas para a produção de carne suína no país. A Embrapa de Concórdia mantém os descendentes moura em granjas. O pequeno rebanho, com 21 matrizes em produção, serve principalmente para aumentar os estudos de base genética. O que se pretende é descobrir genes importantes para melhorar a qualidade da carne e o valor comercial no cruzamento com outras raças. Já que pura, a moura ainda não consegue competir com os animais utilizados para a produção industrial.
“Elas produzem menos que os híbridos que resultam dos cruzamentos. Então, todos os sistemas produtivos de suínos ou até de outras espécies são baseados em animais híbridos. São algumas raças para fazer o reprodutor e outras raças para fazer a reprodutora. Do cruzamento desses híbridos reprodutores com as fêmeas dá um produto híbrido de melhor desempenho”, explicou Elsio Figueiredo, zootecnista da Embrapa. Já se sabe que, apesar de demorar mais pra crescer, o que pode aumentar o custo de produção, o suíno moura apresenta características importantes como a boa qualidade de carne; maior marmoreio, que é a quantidade de gordura entre as fibras e os músculos; coloração uniforme e maior resistência à doenças, devido à rusticidade.
“No Brasil hoje, a maior quantidade de carne produzida ou quase a totalidade é para rendimento industrial. E ele tem poucas opções ou ainda não está nessa opção de carne de melhor qualidade para o mercado especializado como é o mercado europeu e é o mercado japonês’, completou Figueiredo.