Redação (11/03/2009)- O tamanho da recuperação das lavouras no Rio Grande do Sul, que após uma longa estiagem vêm sendo regadas a chuvas regulares desde janeiro, tornou-se o principal ponto que diferencia as projeções, tanto oficiais quanto privadas, sobre a real produção de soja no Brasil. As estimativas variam do patamar de 56 milhões para o de 59 milhões de toneladas, diferença de cerca de 3 milhões que pode intervir nas cotações no mercado internacional se, de fato, se concretizarem. Nesta semana, a consultoria AgRural surpreendeu ao divulgar uma projeção de colheita de 59 milhões de toneladas para o grão, ante a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 57,6 milhões de toneladas e de outras, como a Safras & Mercado, de 56,6 milhões. Além da colheita gaúcha, que é a que mais deve alterar os números finais da safra, está sendo esperada melhora no desempenho dos cultivos no Paraná e em Mato Grosso do Sul, que também foram penalizados com seca prolongada.
Eduardo Godoi, da AgRural, conta que foi a volta das chuvas ao Sul do Brasil que motivou a alteração da estimativa de 57,7 milhões de toneladas em janeiro para 59 milhões no levantamento de fevereiro. "O bom volume de chuva nos últimos 45 dias trouxe perspectiva de recuperação à lavoura gaúcha. Esperamos produtividade de 37 sacas por hectare, enquanto a Conab estima 34 sacas", acrescenta Godoi. Na comparação com os números oficiais, da Conab, os dados da AgRural indicam a colheita adicional de 800 mil toneladas neste estado. A consultoria prevê 8,7 milhões de toneladas, e a Conab, 7,8 milhões. A consultoria, explica Godoi, também prevê 300 mil toneladas a mais que a Conab no Paraná e 400 mil toneladas adicionais nos estados do Norte e Nordeste, onde a Conab prevê 5,95 milhões de toneladas, e a AgRural, 6,3 milhões de toneladas.
A Safras & Mercado é a que tem uma das menores previsões de safra para soja. A consultoria prevê 56,6 milhões de toneladas do grão, ante a projeção de dezembro de 59,7 milhões de toneladas. "Em dezembro, tínhamos previsto uma safra de 9 milhões de toneladas para o Rio Grande do Sul, mas depois da estiagem, esse número caiu para 8,3 milhões. Ainda mantemos esse número, mas pode ser que haja alteração no nosso relatório de março", afirma o diretor da Safras & Mercado, Flávio Roberto de França Júnior.
O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, confirma que houve recuperação das lavouras gaúchas e que a previsão da entidade de 7,3 milhões, está sendo revista para algo entre 8,5 milhões a 9 milhões de toneladas do grão.
Mercado
A elevação da colheita de soja no Brasil em 3 milhões de toneladas pode sim mexer com as cotações da commodity no mercado internacional, mas para Glauco Monte, da FCStone, isso só vai acontecer se a estimativa mais alta for acolhida pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), que divulga hoje nova projeção da safra mundial. "As bolsas já precificaram uma safra entre 55 milhões e 57 milhões de toneladas para o Brasil e entre 40 milhões e 43 milhões de toneladas para a Argentina", pondera Monte. Agora, continua ele, o mercado está olhando para frente, principalmente preocupado com o tamanho do plantio de soja nos Estados Unidos, cuja primeira estimativa oficial deve sair a partir de abril. Alguns números vêm surgindo no mercado, como aumento da área em 1,3 milhão de acres, o que significaria alta de 2%, ante o cultivo de 75,7 milhões de acres do ciclo anterior. "Essa alta anularia o efeito positivo para os preços da soja da possibilidade de menor safra na América do Sul", explica Monte.
De acordo com a Safras & Mercado, Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia devem colher juntos 105 milhões de toneladas, 12,5% menos que as 120 milhões previstas em dezembro.Até agora, a possibilidade de menor safra no Brasil está elevando os prêmios nos portos do brasileiro que, segundo o analista da FCStone, costumam ficar negativos nessa época do ano por causa da entrada da safra brasileira. "Mas os prêmios estão 60 centavos de dólar acima da Bolsa de Chicago (CBOT). Também contribui para esse quadro o fato de o produtor estar retraindo suas vendas", argumenta Monte.
De acordo com a AgRural, o produtor de soja comercializou até fevereiro 37% de sua safra, percentual que em mesmo período do ano passado era de 57%. "Mas essa menor comercialização não está interferindo ou sustentando os preços", avalia Godoi.