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Brasil perde aumento de cotas em carnes e etanol na OMC

<p>O fracasso das negociações da Rodada de Doha, em Genebra (Suíça), novamente prejudicou avanços para os exportadores do agronegócio brasileiro.</p>

Redação (30/07/2008)- Entre os segmentos que foram alvo de propostas consideradas interessantes no que diz respeito à ampliação de comércio, mesmo que tímidas em um primeiro momento segundo representantes dos setores envolvidos, estão os segmentos de carnes (bovina, suína e de frango) e o etanol.

No caso das carnes, a União Européia havia proposto ampliar os volumes anuais exportados pelo Brasil com tarifas reduzidas: 200 mil toneladas para carne suína, 300 mil toneladas para frangos e outras 300 mil toneladas para a carne bovina, segundo Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (representante dos exportadores de suínos), que esteve em Genebra. Camargo Neto também foi secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura e idealizador dos contenciosos na OMC contra os EUA (subsídios ao algodão) e contra a União Européia (subsídios ao açúcar).

"As tarifas ainda estavam em negociação, queríamos zero, mas isso não chegou a ser definido", disse o presidente da Abipecs. "É um atraso o fracasso das negociações, mas não é o fim do mundo. Essa rodada já fracassou outras vezes", avaliou, ainda.

Especificamente para o setor de suínos, a cota atual de exportação com tarifa reduzida é de 40 mil toneladas. Apesar da ampliação oferecida pela UE, o setor não ficou satisfeito. Segundo o presidente da Abipecs, o volume oferecido na proposta equivale a apenas 1% do consumo do bloco. "Falava-se inicialmente que proporiam ampliação da cota equivalente a 4% do mercado consumidor europeu. O volume de 200 mil toneladas é baixo", considera Camargo Neto.

No caso da carne bovina, segundo opina o consultor Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, o que foi proposto é interessante. "O volume de 300 mil toneladas é significativo considerando que se trata de apenas um mercado e que paga bem. Equivale a 15% do que o Brasil pretende exportar em carne bovina neste ano", diz. Segundo a Scot, a estimativa é de que o setor exporte 2 milhões de toneladas no total. Tito Rosa lembra que a Europa é um mercado difícil para negociar e que as tarifas de importação no caso da carne bovina são altas. O importador paga 12,8% mais 3.041 euros por tonelada. Por isso, o Brasil comercializa apenas as carnes nobres, cujo valor é mais alto.

"Qualquer avanço nesse mercado é algo que não se pode dispensar, pela dificuldade de negociações, tarifas altas e pelo protecionismo. É claro que é a visão setorial, sem considerar o que a Europa pediu em troca por ceder essa cota para carnes", finaliza Tito Rosa.

As discussões sobre os subsídios dados pelos Estados Unidos aos produtores de algodão é outro capítulo que ficou sem solução. Segundo Camargo Neto, os norte-americanos tratariam da questão somente durante a Rodada Doha e havia expectativa brasileira de que esse tema avançasse.

Etanol

O etanol também havia sido incluso nas propostas feitas pelos negociadores europeus – o que pegou o governo, representantes do setor e analistas de mercado brasileiros de surpresa. A UE havia oferecido baixar tarifas aplicadas sobre 1,75 bilhão de litros exportados a cada ano. Analistas disseram ao DCI, na semana passada, que até então o bloco europeu nunca havia sinalizado que discutiria as tarifas do etanol. O presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, disse, em nota ontem, que a entidade entende que perdeu-se a possibilidade de integrar um pouco mais o etanol no sistema mundial de comércio.

"A Unica lamenta a chance perdida de integrar, ao menos parcialmente, o etanol no sistema mundial de comércio", afirmou Jank, em nota.

Segundo a Unica, antes do início das negociações em Genebra, o setor sucroalcooleiro brasileiro já visualizava um acesso muito limitado para o açúcar. Esperava-se progresso envolvendo o etanol. Mesmo considerando-se as sensibilidades que existem tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, o que se desejava era o surgimento de mecanismos que ampliassem o acesso do produto. Com o fracasso das negociações na OMC, a entidade vai perseguir outras alternativas de combate aos subsídios. Jank observou, ainda, que a Rodada de Doha já dura sete anos e dificilmente será concluída antes de completar oito. Para ele, é impossível retomá-la antes das eleições presidenciais norte-americanas.