Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Detalhes que fazem do peru estrela natalina

<p>Uma coisa é certa: se for macho, ele não irá para a ceia natalina. São as peruas que são oferecidas aos consumidores nesta época do ano, com pesos que variam de três a cinco quilos.</p>

Redação (19/12/06) – A música que sai o dia todo das sete caixas de som espalhadas em um espaço de 1,2 mil metros quadrados funciona quase como uma babá para as 21,8 mil peruas que estão sob o cuidado de Anderson Ostapoviski, um dos integrados da Perdigão que vivem em Castro (PR). Melhor que isso, só a narração de radialistas para manter a tranqüilidade dos animais, que não gostam de grandes alterações no ritmo das canções.

A estratégia funciona bem em dias normais, quando o barulho externo é neutralizado pela programação das rádios, mas torna-se ineficiente se alguém entra no aviário ou se há muito barulho do lado de fora. Motivo: tanto macho como fêmea costumam correr em direção ao som e, sem alguém para interferir nesses casos, correm risco de morte ao se amontoarem no mesmo espaço. “Eles são muito curiosos e se sentem atraídos por som e movimento”, diz Mauro Gradin, supervisor da área de perus da empresa. À noite, quando o rádio é desligado para que as aves durmam, o silêncio é necessário.

O Valor visitou na semana passada dois aviários no Paraná onde, num raio de 100 quilômetros, a Perdigão mantém 470 criadores. No de Anderson, encontrou fêmeas com seis dias de vida. Ele é o chamado iniciador, aquele criador que fica com os perus do primeiro ao 28 dia. Quando normalmente estão com 800 gramas a um quilo, as aves seguem para o terminador, onde passam mais uns 40 dias, caso sejam destinadas ao consumo natalino, ou cerca de 100 dias, se forem para exportação ou para produtos industrializados.

Uma coisa é certa: se for macho, ele não irá para a ceia natalina. São as peruas que são oferecidas aos consumidores nesta época do ano, com pesos que variam de três a cinco quilos. Na Perdigão, o abate começou em maio e foi até novembro, para chegar às gôndolas de supermercados em dezembro. Fora desse período, ambos os sexos ficam mais tempo com os criadores para ganhar peso. No mesmo período de tempo, o macho tem maior ganho de peso: chega a 18 quilos e a fêmea, a 10 quilos. Por isso, normalmente, os machos são usados para a produção de industrializados.

Na propriedade de João Maria Martins, também em Castro, 4,2 mil machos com cerca de 17 quilos cada aguardavam a hora do abate. Ao contrário da situação anterior, em que as aves de poucos dias, além do som do rádio, precisam de aquecedores a gás em dias frios, ou nebulizadores para abaixar a temperatura em dias quentes, as adultas são menos exigentes, embora continuem curiosas. Se as pequenas correm e emitem pequenos gorgolejos, as maiores respondem a barulhos com o conhecido gluglu e se movem mais lentamente com suas penas brancas e cristas com cores que vão do azul ao vermelho e suas variadas combinações.

Nos dois casos, são os perus que garantem a renda da família. Anderson tem 31 anos e está na atividade há seis. Em 2006, recebeu em sua propriedade nove lotes de perus com um dia de vida, ou seja, junto com a mulher, cuidou de 180 mil unidades. “Foi um dos melhores anos”, diz. Bom para toda a família, já que seus irmãos, sogro e outros parentes também cuidam desses animais na região. “A mão-de-obra é leve, mas eles são como crianças, precisam de cuidados”, disse ele, que tem quatro hectares de terra e, admite, não comerá peru no natal. “Não sou muito fã”.

Para João Maria, cuidar de perus representou uma virada na vida. Durante 20 anos ele foi funcionário da Rede Ferroviária Federal e atuava na manutenção de trilhos. Hoje vive num sítio e seus dois filhos casados trabalham na Perdigão em Carambeí, onde fica a estrutura industrial. “Toda vida quis lidar com granja”, contou. O primeiro aviário ele construiu há sete anos em um terreno de cinco hectares do pai, onde logo foi erguido outro. Em cada um deles, cuidou de três lotes no ano, todos de perus machos. Em 2006 a família já comeu um deles, que quebrou a perna e teve de ser abatido.

Desde 2000, todo peru da Perdigão que chega aos consumidores sai do Paraná. Foi nesse ano que a empresa comprou a área de carnes da Batávia e passou a ter o produto em seu portfólio. Para 2007, no entanto, estão previstas mudanças. Uma nova estrutura para criação e abate desses animais está sendo construída em Mineiros (GO) e de lá deverá sair a maior parte da demanda para as festas natalinas.

Renato Macedo, gerente de agropecuária da unidade paranaense, localizada em Carambeí, disse que na região serão criados os perus destinados ao preparo de embutidos e para exportação, que já respondem por 80% das vendas. Em 2007 a unidade fará abate para o Natal no último trimestre e, no futuro, a tendência é que tudo saia de Mineiros. “Teremos aqui o mesmo número de perus, mas eles ficarão mais tempo nas granjas”, explicou.

Isso exigirá mudanças na estrutura de produção, com o aumento no número de terminadores, os produtores que recebem os animais já com quase um mês de vida e cuidam da engorda final. Ao contrário do que acontece com o frango, que passa por um único criador, o peru passa por dois. Se, na segunda fase, o aviário pode ter seis animais destinados ao Natal por metro quadrado, o mesmo espaço não comporta mais de 3,5 unidades dos que ficam mais pesados e vão para a indústria. No caso de frango, são cerca de 15 por metro quadrado, mas não são os mesmos criadores para os dois animais. Quem opta por peru só cuida dele, e o mesmo acontece com o frango ou outra ave.

Macedo informou que Mineiros terá, no início, a mesma capacidade de abate do Paraná: cerca de 8 milhões de perus por ano, e também terá chester. A unidade deverá ser inaugurada no primeiro semestre do ano que vem.

A reprodução dos perus é feita por inseminação artificial. O macho reprodutor pesa cerca de 30 quilos e a fêmea, 12. Segundo Macedo, não é possível determinar na inseminação o sexo dos animais, mas a proporção tem sido mantida em meio a meio. Perus e peruas seguem então caminhos diferentes. Ele explicou que o aumento na estrutura destinada aos perus na Perdigão visa principalmente atender ao mercado externo.

Na fábrica, volta e meia chega um caminhão com gaiolas de perus. Na entrada, o animal é insensibilizado por choque e, depois, sangrado. Em seguida é depenado, tem as vísceras retiradas e vai para o tempero injetável ou para corte e industrialização. Só depois segue para o varejo e para a mesa dos consumidores.