Redação SI (04/04/06)- A prometida reabertura do mercado de carnes do Rio Grande do Sul para a Rússia vai ser um alívio para os gaúchos, mas ainda não resolve os problemas da suinocultura brasileira. Sem espaço para estocagem de carnes que estão à espera de embarques, as exportações de março renderam apenas US$ 38 milhões, 44% menos do que em fevereiro. O cenário é mais crítico, ainda, se for considerada a média diária de exportações, que, no mês passado, recuou para apenas US$ 1,7 milhão, 52% menos do que em fevereiro. Os dados foram divulgados ontem (03) pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
Segundo representantes do setor da suinocultura brasileira, foi vencida uma batalha, mas não a guerra. Pedro Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína), diz que a Rússia tem de liberar [as importações] também de Santa Catarina, de Minas Gerais e de Goiás. “Os russos não estão se pautando por critérios técnicos para a reabertura do mercado brasileiro”, diz Camargo Neto. Segundo o presidente da Abipecs, “eles seguem o protocolo sanitário Brasil-Rússia, que não deveria mais estar em vigor com a entrada da Rússia na OMC (Organização Mundial do Comércio)”.
As regras a serem seguidas pelos russos devem ser as da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), pelas quais os demais Estados citados deveriam também ser liberados, afirma ele. O presidente da Abipecs diz que os russos têm posições conflitantes, já que, quando ocorreram os casos de aftosa em Mato Grosso do Sul, embargaram apenas as carnes daquele Estado. Em dezembro, com o anúncio de febre aftosa também no Paraná, estenderam a medida para todo o país.
Camargo Neto diz que os russos estão mais rígidos do que os europeus, que seguem as normas da OMC. A União Européia mantém embargo apenas para Mato Grosso do Sul, Paraná – Estados onde ocorreram casos de aftosa – e São Paulo, principal saída das carnes de Mato Grosso do Sul.
Negociações difíceis:
A posição russa decepcionou o mercado, que esperava o fim do embargo também para os demais Estados. Mas Camargo Neto diz que a liberação de ontem (03) terá um efeito dominó e deve ser estendida a outros Estados. As negociações com os russos têm-se mostrado bastante difíceis, com a circulação constante de papéis de Brasília para Moscou e vice-versa.
Um exemplo disso é que só no final da tarde a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento confirmou a suspensão do embargo russo às carnes bovina e suína provenientes do Rio Grande do Sul. O governo brasileiro tinha informações de que haveria a liberação para o Rio Grande do Sul, mas teve de esperar documento oficial que mostrasse o final do embargo.
Os dados da Secex mostram também os efeitos da febre aftosa sobre a carne bovina. Em março, as receitas com as exportações do setor ficaram em US$ 216 milhões, segundo a Secex, mesmo valor divulgado pela Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) para fevereiro, mês com menos dias úteis.
O setor de frango também perdeu ritmo nas exportações do mês passado. Dados da Secex indicaram receitas de US$ 238 milhões para o período, um valor próximo dos US$ 230 milhões referentes a fevereiro divulgados pela Abef (Associação Brasileira dos Exportadores de Frango). O setor de frango, que terminou o ano com exportações mensais de US$ 245 milhões, perdeu ritmo devido ao avanço da gripe aviária. Líder mundial em exportações e isento da doença, o Brasil sofre os efeitos da queda do consumo em outros países.
Essa queda no consumo trouxe sérios problemas para o setor, que já vê um cenário menos ruim devido à interrupção da queda mundial de consumo e à redução da produção interna. Os preços das carnes reagiram ontem no mercado interno. A arroba de boi gordo foi a R$ 51, segundo cotações do Instituto FNP. Já o quilo do frango vivo subiu para R$ 0,85 nas granjas paulistas. As negociações com carne suína chegaram a R$ 25 por arroba, mas ainda há negócios a R$ 23.