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Renda menor pode derrubar área de plantio em 2005/06

<p>Disponibilidade de recursos para a próxima safra deve ser afetada, conforme ministro.</p>

Da Redação 08/04/2005 – Depois de dez anos de crescimento no campo, os produtores devem puxar ainda mais o freio na safra 2005/06, desacelerando o ritmo de investimentos, o que pode até reduzir a área plantada de grãos. Nesta safra, a 2004/05, a área cresceu 2,4% totalizando 48,5 milhões de hectares – um crescimento de 26,3% na comparação com dez anos atrás, segundo levantamento da (Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

“Encerraremos a safra 2004/05 com a mais baixa rentabilidade dos últimos cinco anos, por conta da elevação dos custos e queda dos preços agrícolas e do dólar”, disse André Pessôa, diretor da Agroconsult, no seminário “Perspectivas para o Agribusiness em 2005 e 2006”, realizado quinta-feira.

As perspectivas para 2005/06 indicam que a liberação de crédito agrícola será mais limitada. “Na medida em que o governo prorroga ou repactua os vencimentos dos créditos de custeio, isso pode interferir na disponibilidade de recursos para a próxima safra. O próximo plano de safra pode não ser tão grande quanto desejávamos”, afirmou o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, durante o seminário.

Em um cenário de quebra de safra de grãos – saindo de previsão de 130 milhões para 119 milhões de toneladas e com tendência de queda devido à forte seca no Sul do país – , boa parte dos produtores trabalha também para a renegociação de suas dívidas. A situação poderia estar pior, acreditam analistas ouvidos pelo Valor.

A quebra da produção, localizada no Sul do país, ajudou a dar impulso aos preços, beneficiando produtores do Centro-Oeste. “Os preços se recuperaram, mas não estão nos mesmos patamares da safra passada”, disse Pessôa. “A qualidade do grão colhido está baixa. Os produtores estão vendendo o produto com deságio em relação aos preços indicados nas praças de comercialização do país”, acrescentou.

Ricardo Conceição, vice-presidente de agronegócios do Banco do Brasil, disse que o governo federal deverá fazer esforços para manter ou até aumentar as linhas de crédito para os agricultores na nova safra, a 2005/06. Mas ele reconhece que do total liberado este ano, cerca de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões deverão ser renegociados. Ele disse que o banco terá um desafio adicional para a próxima safra, uma vez que os recursos que não voltam para os cofres do banco não podem financiar a próxima safra.

Até março deste ano, o BB liberou R$ 21,6 bilhões, 20% mais que no mesmo período do ano passado, de um total de R$ 25,5 bilhões que deverão ser financiados na safra 2004/05. Ricardo Conceição disse que o banco deverá ser mais cauteloso, mas que deverá continuar incentivando os produtores a plantar. Os recursos de custeio e comercialização não deverão sofrer restrições, mas os recursos destinados a investimentos serão liberados com maior critério pelo banco.

Segundo a Agroconsult, a produção brasileira de soja deve ficar em 51 milhões de toneladas, ante 63 milhões de toneladas previstos anteriormente. Seneri Paludo, analista da Agência Rural, observou que os Estados Unidos mudaram pouco a área plantada, de 30,4 milhões de hectares para 29,9 milhões neste ano e a produção mundial acima do consumo impede a explosão de preços. “Os produtores só vão manter a área plantada se os preços se mantiverem pelo menos nos patamares atuais”, disse. No Brasil, nos últimos dez anos, a área com soja saltou de 13 milhões de hectares para 22,6 milhões de hectares, alta de 74%.

Fábio Padovani, produtor de soja e milho em Campos de Júlio (MT), ampliou a área na safra 2004/05 em 2 mil hectares, para 8 mil hectares de soja. Mas no próximo ciclo, vai reduzir a área em 5% e usar a área para plantar milho. “O custo de produção da soja aumentou em torno de 30%, para US$ 450 por hectare e os preços atuais não justificam aumento da área na próxima safra”, afirmou. Neste ano, ele também vai plantar 1,5 mil hectares de milho safrinha, para fornecer a indústrias de carnes do Centro-Oeste e Paraná, que ampliaram a demanda neste ano.

No milho, a colheita deve ficar em 29 milhões de toneladas na safra de verão, ante 32 milhões de toneladas previstas anteriormente, informou a Agroconsult. Fernando Muraro Júnior, da Agência Rural, estima uma produção total de 38,1 milhões de toneladas, para um consumo de 41,7 milhões, o que vai exigir importação de pelo menos 3,5 milhões de toneladas para abastecer o mercado. “O cenário é de desabastecimento para 2005 e 2006, e o preço é pressionado pela grande produção mundial”, disse Muraro.

Para café e açúcar, o cenário está mais otimista. Linneu da Costa Lima, secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, prevê que 2005 será um ano de preços atraentes e de bons negócios para a cadeia do café. Roberto Rodrigues disse ver na agroenergia a possibilidade de expansão do agronegócio brasileiro no próximo ano.

“A oferta de cana cresce de 6% a 7% neste ano com a demanda sucroalcooleira e há dezenas de projetos industriais e interesse de investidores estrangeiros para montar projetos de açúcar e álcool no Brasil nos próximos anos. Esses investimentos vão determinar a expansão do setor”, disse Rodrigues. A Unica (que reúne as indústrias paulistas), contudo, ainda não tem projeções prontas para a nova safra de cana no Centro-Sul. No Paraná, a safra de cana terá perdas de até 4% por conta da seca. A expectativa é de que o total de açúcar na cana, o ATR, cresça entre 6% e 8%.

Os problemas logísticos ainda continuam como um dos principais entraves dos agronegócios. O governo disse que tem R$ 4,2 bilhões no Orçamento para o Ministério de Transporte neste ano, e que boa parte desses recursos será aplicada na recuperação de estradas e logísticas nos portos, segundo Paulo Sérgio Oliveira Passos, secretário executivo do Ministério de Transportes.