O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deu início à Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária por meio da invasão de pelo menos nove fazendas em todo o país, além das sedes do Incra em pelo menos sete unidades da federação.
As ações tomaram forma no sábado (15), quando oito fazendas em Pernambuco foram invadidas, incluindo áreas na região metropolitana do Recife, zona da mata, agreste e sertão. Em comunicado, o MST alegou que as terras são latifúndios improdutivos. Uma das áreas invadidas, localizada na cidade de Petrolina e pertencente à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi ocupada por 600 famílias.
Em nota, o órgão federal disse que as terras fazem parte da Embrapa Semiárido e têm sido utilizadas para instalação de experimentos e multiplicação de material genético. Ainda segundo a Embrapa, a invasão atingiu ainda áreas de preservação da caatinga, comprometendo a vida de animais ameaçados de extinção, além de pesquisas para conservação ambiental e de uso sustentável do bioma. O órgão afirmou que tomará as medidas cabíveis para solucionar a situação. Ao todo, 2.280 famílias sem-terra invadiram áreas no estado de Pernambuco desde o início de abril.
A primeira terra invadida foi a do Engenho Cumbre, em Timbaúba (102 km do Recife), há cerca de duas semanas. Segundo o MST, a área pertence ao Governo de Pernambuco. As outras sete invasões em Pernambuco ocorreram no último fim de semana, sendo a maior delas na área que pertence à Embrapa. Também foram ocupadas outras áreas em Timbaúba, Jaboatão dos Guararapes, Tacaimbó, Caruaru, Glória do Goitá e Goiana. A maior parte das terras são de antigos canaviais e engenhos de açúcar.
O MST argumenta que as terras são improdutivas, pertencem ao poder público ou são de empresas que faliram ou possuem irregularidades tributárias perante o Estado. Na madrugada desta segunda-feira (17), cerca de 200 famílias invadiram uma área no município de Aracruz, no Espírito Santo. O MST afirma que a fazenda faz parte do patrimônio do governo do estado, mas teria sido grilada pela Aracruz Celulose, empresa adquirida pela Suzano em 2018.
Procurada, a Suzano afirmou que foi surpreendida com a invasão de duas áreas produtivas da empresa e que ingressou com uma ação judicial para reintegração de sua posse das terras. A empresa disse também que “cumpre integralmente as legislações ambientais e trabalhistas” e que tem o desenvolvimento sustentável como premissa. Na manhã desta segunda, as sedes do Incra foram invadidas nos estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Ceará, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte, além do Distrito Federal. Na Bahia, famílias protestaram na entrada da Assembleia Legislativa da Bahia, onde participaram de uma audiência pública. Cerca de 400 pessoas participaram do ato, que tratou da reforma agrária e do aumento da violência no campo.
Nas últimas semanas, deputados estaduais baianos recolheram o número mínimo de assinaturas para a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que teria como objetivo investigar invasões de terras no estado. A CPI do MST, contudo, ainda não foi instalada. Na semana passada, um grupo de cerca de 1.500 trabalhadores sem-terra invadiu a sede do Incra em Maceió.
Os manifestantes cobraram a exoneração do superintendente local do órgão, César Lira, que é primo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).