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Redução na produção

Avicultores prometem reduzir a produção nacional em 2003.

Redação AI 05/12/2002 – A “Carta de Curitiba”, documento assinado por representantes das indústrias avícolas de todo o País em julho deste ano, só começa a sair do papel agora, com vários meses de atraso. O documento, que recomendava ao setor a imediata redução de 8% no alojamento de pintos de corte, havia caído no vazio: neste período, a produção não só não caiu, como continuou crescendo. Mas agora o setor volta a dar sinais de preocupação com o quadro de abastecimento de seu principal insumo, o milho, e corta na carne para ajustar sua demanda à oferta do produto.

Em outubro, por exemplo, o número de cabeças de aves alojadas no Brasil chegou a 335,5 milhões, um aumento de 5% em relação a setembro e de 6,8% frente ao mesmo período do ano passado. O aumento de produção se justifica pelas festas de final de ano, quando o consumo costuma crescer, e também pelo bom desempenho das exportações brasileiras, que continuam apresentando desempenho muito superior a 2001. A reação dos preços internos ocorrida recentemente no segundo semestre, a valorização do preço médio pago pelo quilo do frango foi de quase 45% também deu uma contribuição importante para manter a atividade aquecida.

Mas neste final de ano o quadro começa a mudar. Segundo Domingos Martins, diretor presidente da Frango A Gosto, de Apucarana, e presidente do Sindicato dos Abatedouros de Aves do Estado do Paraná (Sindiavipar), em novembro já houve uma diminuição considerável no alojamento de pintos de corte. Ainda não há números oficiais, mas as estimativas do setor apontam para um volume próximo de 302 milhões. A queda, se confirmados estes números, será de aproximadamente 9%. E não deve parar por aí. “A redução nos próximos meses será ainda maior pelo grande descarte de matrizes e o aumento da oferta de ovos férteis”, afirma o empresário.

Com isso, Martins estima que em breve será possível chegar ao número considerado ideal para a produção nacional: 285 milhões de cabeças de aves por mês. Este comportamento das indústrias, porém, não foi exatamente espontâneo. “A preocupação já não é com o preço do milho, mas sim com a escassez”, explica o presidente do Sindiavipar. Se antes a alta dos preços do grão era contrabalançada pela forte demanda internacional, agora a possibilidade de que não haja milho suficiente para garantir o abastecimento de ração deixou os avicultores assustados.

Incerteza

Além da óbvia preocupação com o abastecimento de seu principal insumo, a atividade tem ainda um cenário incerto de demanda pela frente. Em dezembro, o que pesa é a concorrência extra no mercado das proteínas animais, com a entrada de diversas carnes especiais no cardápio do brasileiro. Já nos meses seguintes, o problema passa a ser a diminuição da procura, já que as férias de verão são tradicionalmente consideradas um poderoso fator de redução no consumo de carnes em geral, incluída a de aves, que migra principalmente para o peixe.

Nem mesmo a reação dos preços anima os empresários do setor. Segundo o presidente do Sindiavipar, apesar de melhor, a atual remuneração do produto ainda está muito aquém do esperado. “No início do plano Real, o quilo do frango valia US$ 1,00, enquanto hoje vale apenas US$ 0,50”, alega, referindo-se aos R$ 1,85 pagos no atacado pelo produto ao câmbio de R$ 3,70 por dólar. Além disso, a relação de troca com seu principal insumo é cada vez mais desfavorável. Se não fossem os melhoramentos genéticos, nutricionais e de ambiência, diz Martins, a perda de rentabilidade seria fatal para as empresas.