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Peste Suína Africana

China conseguirá em menos tempo o que o Brasil fez em seis anos?

Plantel suíno da China é de 1,1 bilhão de cabeças; o Brasil tinha 32 milhões quando afetado pela doença

Grande número de produções não tecnificadas é desafio do governo chinês

O vírus da Peste Suína Africana desembarcou no Brasil em 1978. A princípio, uma criação de suínos no Rio de Janeiro teria sido infectada por restos de alimentos oriundos de um avião. Um mês depois, outros nove focos foram confirmados no território brasileiro. O Brasil demorou aproximadamente seis anos para extinguir a PSA. As medidas iniciais foram tomadas pelo presidente militar Ernesto Geisel e incluíram o uso das forças armadas para o combate à doença. Naquela época, o país tinha um plantel com algo em torno de 32 milhões de suínos. A China que hoje sofre com um feroz surto de PSA conta com mais de 1,1 bilhão de cabeças.

Pode-se dizer que o Brasil demorou para agir após o aparecimento da PSA. Reportagem da revista Suinocultura Industrial, de março de 1981, apontou que o governo brasileiro iniciou o plano oficial de combate à crise sanitária em outubro de 1980. Já haviam se passado quase dois anos do início dos surtos da doença.

Um decreto assinado pelo penúltimo presidente do Regime Militar determinou, entre outras medidas:

– proibição do transporte de suínos e também de carnes e derivados;

– não introdução de novos animais aos plantéis; proibição de visitas as pocilgas;

– desinfecção das pocilgas;

– incineração ou enterro de todo lixo urbano;

– impedir acesso de pessoas e animais a aterros sanitários;

– impedir transporte de lixo ou lavagens por terceiros;

– fiscalização do trânsito de suínos e subprodutos;

– sacrifício, enterro e incineração das carcaças;

– coibir comercializações clandestinas de suínos e subprodutos.

Seis anos depois do primeiro caso – ou seja, em dezembro de 1984 – o Brasil finalmente voltou a ser declarado livre de Peste Suína Africana. O saldo, contudo, foi de 66 mil animais sacrificados.

 

A CHINA CONSEGUIRÁ EXTINGUIR A PSA EM MENOS TEMPO?

Com um plantel muito maior do que o brasileiro e poucas informações divulgadas pelo governo, o número de animais sacrificados na China ainda é desconhecido. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) aponta que foram eliminados no país 1,193 milhão de animais devido à doença. Outras estimativas são mais impactantes, como a do Rabobank, que estima uma redução de 50% do rebanho chinês.

Apesar das dimensões territoriais e do plantel suíno gigantescos todas as projeções são de que a China conseguirá contornar a situação e se reestabelecer em cinco anos. Wagner Yanaguizawa, analista do Rabobank Brasil, destaca que o movimento de recuperação já começou.

“Algumas medidas já estão sendo tomadas pelo governo da China, como reestruturação das unidades produtoras focando nas propriedades de médio e grande porte, onde o nível de tecnificação e produtividade são maiores”, diz.

Existem expectativas ainda mais otimistas em relação à recuperação chinesa. Para Gordon Butland, consultor internacional em avicultura, é possível que até mesmo entre três e quatro anos a China consiga retomar a produção livre de PSA.

Outro ponto importante, segundo Yanaguizawa, “é que concentrando a produção em um número menor de estabelecimentos a gestão por parte do governo é facilitada, principalmente em casos como o que está ocorrendo com a PSA, onde o ritmo de espalhamento do vírus é muito rápido e agressivo”.

 

PRODUÇÃO CHINESA NÃO VOLTARÁ A SER O QUE ERA

Os impactos da PSA na suinocultura da China, por outro lado, devem deixar marcas permanentes. A avalição de Gordon Butland, por exemplo, é de que “a produção chinesa jamais voltará a ser o que era”. Dentre os motivos para isso, cita Wagner Yanaguizawa, que também faz essa análise, está o menor consumo da proteína suína pela população chinesa.

“A grande redução na oferta interna de carne suína fez com que os preços mais que dobrassem em comparação com o ano anterior. Tais altas desestimularam o consumo de parte da população que migraram para carne de frango, principal concorrente em termos de preço”, considera o analista do Rabobank.

Segundo ele, essa mudança nos padrões de consumo da nação que mais demanda carne suína do mundo deve se irreversível, ou seja, “a parcela dos chineses que passaram a se alimentar mais de carne de frango não retornará para a carne de porco”.

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