A saída do Reino Unido do bloco da União Europeia, após referendo realizado no último dia 24 de junho, certamente foi a notícia mais comentada em todo o mundo. “Não era esperado um resultado favorável à saída do Reino Unido da UE, apesar das indicações das pesquisas de opinião. É um momento delicado no qual ainda não está muito claro quando, como e a que custo esta saída se dará”, avalia Alinne Oliveira, superintendente de Relações Internacionais da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), em entrevista à equipe SNA/RJ.
Para ela, um dos principais questionamentos, como fruto deste resultado, está relacionado ao futuro político do bloco europeu. “Há tendências nacionalistas e separatistas em vários outros países-membro da UE, que receberam uma injeção de entusiasmo após o resultado do referendo britânico. Estes grupos são, essencialmente, contrários ao projeto político da União Europeia”, ressalta.
Na opinião de Alinne, fora a instabilidade das bolsas internacionais, para o Brasil, o impacto deve demorar a ser sentido, já que a saída não será imediata. “A relação bilateral entre Brasil e Reino Unido é positiva em termos políticos, comerciais e de cooperação. Portanto, não afetará a importância desta relação. Seguiremos com uma agenda positiva e, possivelmente, poderemos aprofundá-la em termos comerciais já que, sem as restrições da União Europeia, o Reino Unido poderá, mais agilmente, negociar acordos e buscar benefícios diretos a seus cidadãos”.
Desta forma, continua a superintendente de Relações Internacionais da CNA, poderão surgir novas oportunidades para o Brasil, em especial para o setor agropecuário, “se pudermos aprofundar as relações comerciais com o Reino Unido, promovendo, assim, melhor acesso ao mercado daquele país para nossos produtos”. Leia mais sobre o tema em outra reportagem da Sociedade Nacional de Agricultura: “Brasil pode ampliar mercado no Reino Unido, analisa diretor da SNA Márcio Fortes” .
Carnes
Na visão de Alinne, produtores nacionais de açúcar, carnes, café, entre outros produtos agropecuários, poderão se beneficiar de uma parceria ainda mais intensa entre os países. “Por enquanto, precisamos aguardar as diretrizes das negociações da saída do Reino Unido da UE para podermos quantificar possíveis ganhos – ou perdas – para a relação bilateral comercial com o Brasil. Certamente, a parceria política e de cooperação continuarão fortes, assim como tem sido historicamente.”
Em entrevista à equipe SNA/RJ, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, também faz sua avaliação sobre a saída do Reino Unido da União Europeia: “O Reino Unido é um relevante importador de alimentos e, neste sentido, com as mudanças ocorridas no cenário político-econômico, não acreditamos que acontecerão retrações e, sim, oportunidades para a intensificação dos negócios”.
Sozinho, informa Turra, o Reino Unido é um grande importador de carne de frango do Brasil, tendo importado 77,5 mil toneladas, em 2015. “Neste contexto, mais livre das amarras do bloco, o país europeu poderá intensificar os negócios com os exportadores brasileiros, visto que temos custos competitivos para abastecer este mercado. Obviamente, nossa estratégia será a de complementariedade de mercado, atendendo aos espaços que os produtores locais não ocupam”, salienta o presidente da ABPA.