Surgiram sinais de vitalidade na economia brasileira nas últimas semanas. Ainda é cedo para confirmar uma mudança definitiva de humor, mas as novidades não podem ser ignoradas. Infelizmente, elas convivem com desafios e problemas, como a desancoragem das expectativas de inflação e a desconfiança do empresariado.
Os sinais positivos apareceram do lado da confiança. A boa temporada foi inaugurada pela abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) da BB Seguridade, o braço de seguridade do Banco do Brasil. A operação movimentou, no fim de abril, R$ 11,4 bilhões, atraiu investidores do mundo inteiro e se tornou o maior IPO do planeta em sete meses.
Dadas as suas características, esse IPO poderia ter sido um caso isolado de sucesso, mas não foi. Neste mês, o Tesouro Nacional reabriu a emissão de um bônus da República no exterior com vencimento em 2023, captando US$ 750 milhões (num total de US$ 2,1 bilhões). A taxa de retorno para quem comprou o papel ficou em 2,75%, acima dos 2,68% verificados no primeira lançamento do título, em setembro de 2012. Ficou abaixo, entretanto, das expectativas do mercado, que apostava em algo entre 2,8% e 2,85%.
O mais importante: pela primeira vez na história, o Brasil emitiu um papel lá fora com prêmio de risco (spread) inferior a 100 pontos-base sobre o título de dez anos do Tesouro americano – o prêmio ficou em 98 pontos. Nunca o país captou a um custo tão baixo quanto agora.
Outra operação realizada em maio indica que os investidores estrangeiros voltaram a olhar ativos brasileiros com interesse. Em apenas um dia, a Petrobras captou US$ 11 bilhões no mercado de dívida internacional. Foi a maior captação externa já realizada por uma empresa de mercado emergente, a 9ª maior da história, incluindo as do setor financeiro e todos os mercados. A demanda pode ter chegado a US$ 40 bilhões.
O caso da Petrobras é importante porque, sob o comando de Graça Foster, a estatal passa por processo de rearrumação. Depois da desastrada capitalização de 2010, a petroleira entrou em rota de descrédito. Foster assumiu a companhia no início de 2012, promoveu significativa despolitização nas diretorias e redefiniu prioridades. O sucesso da captação externa pode ser um sinal de retomada da confiança do investidor, ainda que de forma cautelosa, na maior empresa brasileira.
Também em maio, outra boa notícia foi a bem-sucedida rodada de licitação de áreas para exploração de petróleo e gás, promovida pela Agência Nacional de Petróleo. O Tesouro arrecadou R$ 2,82 bilhões em bônus de concessão, o maior volume já obtido nesse tipo de leilão. O ágio médio foi de 797,8% sobre o preço mínimo. Das 30 empresas que ganharam blocos, 18, de 11 países, são estrangeiras.
Não menos importante foi a aprovação da Medida Provisória dos Portos, uma iniciativa liberalizante destinada a retirar as barreiras de entrada de novos grupos no setor, incentivar o investimento privado, modernizar a estrutura e a administração dos portos, aumentar o volume de serviços e reduzir seus custos.
A MP foi aprovada à moda da coalizão brasileira, que existe para defender um projeto de poder e não um programa de governo – no fundo, funciona como uma frente anti-impeachment. De toda sorte, a aprovação mostrou que o governo, mobilizando e até contrariando os interesses mais fisiológicos de sua base de apoio, tem força para passar medidas polêmicas.
Uma maior confiança dos investidores no país pode ser vista também no fluxo de entrada de estrangeiros na BM&F Bovespa. 2012 terminou com saldo acumulado de R$ 1,8 bilhão. Apenas nos primeiros cinco meses de 2013 (até 17 de maio), o saldo estava em R$ 10,1 bilhões (ver gráfico). Desde 15 de abril, o Ibovespa subiu 6,4%.
Os pontos negativos estão na gestão macroeconômica. A inflação segue pressionada; as expectativas inflacionárias estão desancoradas desde meados de 2010; o Banco Central vive sob permanente pressão; a política fiscal é expansionista. Some-se isso a desconfiança do empresariado nos propósitos do governo, o que certamente tem ajudado a moderar os investimentos.
O governo acerta na agenda microeconômica, mesmo cometendo erros que depois são corrigidos, mas se equivoca ao pesar a mão na condução da política econômica, interessado em acelerar a atividade no curto prazo a qualquer preço.
Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras
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