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Economia

China financia obras e ganha espaço na economia argentina

Confrontada comercialmente com diversos países, a Argentina abre espaço para a China, diminuindo, como consequência, os negócios com empresas brasileiras.

Flag of Argentina — Image by © Royalty-Free/Corbis
Flag of Argentina — Image by © Royalty-Free/Corbis

Confrontada comercialmente com diversos países, a Argentina abre espaço para a China em sua economia. Mesmo com as exportações ao país asiático estancadas há quatro anos, as importações argentinas cresceram 64% entre 2010 e 2013, puxadas por encomendas oficiais de bens de capital, e uma empreiteira chinesa, a Gezhouba, que derrotou empresas brasileiras na licitação da principal obra pública do país, a construção de um complexo de duas usinas hidrelétricas por US$ 4 bilhões na província de Santa Cruz.

Na semana passada, o governo argentino anunciou a compra de 1.060 vagões e 111 locomotoras chinesas para renovar as linhas Mitre e Sarmiento, recentemente estatizadas. A importação, dividida em três etapas, deverá envolver um investimento de US$ 976 milhões. O material será entregue em 2014.
 
Tanto no caso da obra pública quanto nas importações, a chave para o avanço chinês é o financiamento. “São linhas de crédito mais baratas e concedidas com mais facilidade, algo essencial para a Argentina, com avaliação de crédito afetada no exterior pelos processos que enfrenta no Banco Mundial, no FMI, na Justiça dos Estados Unidos e na OMC”, disse o economista Marcelo Elizondo, da consultora de comércio exterior DNI.

Sem recursos próprios para tocar obras e investir, o governo argentino tem dado preferência nos contratos para os parceiros que banquem as obras ou aquisições de equipamentos. No caso da hidrelétrica, o governo argentino anulou em 2011 uma licitação que havia sido ganha por um consórcio integrado pela brasileira Camargo Corrêa, em que o financiamento próprio equivalia a apenas 12% do total. A proposta do consórcio liderado pela Gezhouba garantiu financiar 100% da obra.

O modelo tende a ser replicado na construção de duas usinas térmicas na província de Buenos Aires, que devem ser licitadas em breve. “A China avançar em todas as áreas em que a Argentina tem grandes problemas para obter financiamento. Falamos de energia, mineração e infraestrutura”, afirmou Ernesto Fernandez Taboada, diretor da Câmara de Comércio Sino-Argentina, a Argenchina.

Ainda em 2010, os chineses entraram no setor de petróleo, ao comprarem por 50% da Bridas, empresa da família Bulgheroni, por US$ 3,1 bilhões. A Bridas é sócia minoritária da British Petroleum na Pan American Energy (PAE) e a família Bulgheroni havia tentado, sem sucesso, adquirir o controle da petroleira. Associada à chinesa CNOOC em partes iguais, a Bridas comprou a rede de distribuição e a refinaria da Esso, em um investimento de US$ 850 milhões.

Em 2011, a chinesa Sinopec comprou a filial argentina da Occidental Petroleum. No fim do ano passado, a Bridas fez um acordo para investimento de US$ 1,5 bilhão, em conjunto com a estatal YPF, para o desenvolvimento do campo de óleo e gás não convencional de Vaca Muerta. Mas a participação chinesa no empreendimento ainda é negociada.

As relações comerciais entre a Argentina e a China haviam sofrido um solavanco em 2009, quando o governo chinês restringiu as compras de óleo de soja, em retaliação pelas barreiras argentinas a bens de consumo de origem chinesa. Desde então, as exportações argentinas não se recuperaram completamente, embora a restrição ao óleo de soja já tenha sido eliminada. “Neste meio tempo a China desenvolveu sua própria indústria de esmagamento e diversificou seus fornecedores, com a compra de grãos do Brasil”, comentou o economista Alejandro Ovando, da consultora IES.

Em 2010, de janeiro a agosto, a Argentina registrou um superávit de US$ 318 milhões, em sua relação com a China. Este ano, até o mês passado, o déficit com o país asiático estava em US$ 3,04 bilhões. As compras de bens de capital crescem este ano, mas em termos proporcionais o que mais aumentou foram as compras de partes e acessórios de telefonia celular, microprocessadores e televisores. “A Argentina deixou de comprar o produto final brasileiro para fazer a montagem nacionalmente, trazendo peças produzidas na China”, disse Ovando. As importações argentinas de peças e acessórios de origem chinesa passaram de US$ 905 milhões de janeiro a agosto de 2010 para US$ 2,6 bilhões no mesmo período este ano.

As exportações argentinas para a China somaram US$ 4,3 bilhões este ano, sendo US$ 3,8 bilhões do complexo soja. A tendência da primarização da balança deve se aprofundar a curto prazo: no começo deste mês, chegou à China o primeiro carregamento de milho argentino, um embarque de 60 toneladas feito pela Bunge.

Na relação entre os dois países, há outra assimetria, além do desequilíbrio da balança: a China é o segundo maior parceiro comercial da Argentina, enquanto os argentinos estão apenas no sexto posto em importância para o comércio chinês com a América Latina, atrás de Brasil, México, Chile, Venezuela e Panamá. Um intercâmbio de swap de reservas de US$ 10 bilhões, assinado em 2009, expirou este ano sem ser usado. “Como a Argentina exporta commodities, não tem como fazer o intercâmbio com a China recebendo em moeda chinesa”, disse o especialista Jorge Castro, da consultoria IPE. “Em termos financeiros, o acordo não resolve o problema central da Argentina, que é de recompor reservas monetárias”, disse Gustavo Girado, da ONG Asia Y Argentina.