Fevereiro começa em clima mais tranquilo que o previsto para a safra de grãos na América do Sul. O rendimento dos talhões já colhidos no Paraná e em Mato Grosso e a conclusão do plantio na Argentina amenizaram o diagnóstico crítico para a produção de soja e milho no continente, fortemente ameaçado pelo fenômeno La Niña neste ano. Por outro lado, a tendência de expressivo aumento do consumo, alavancado pelo lado asiático do globo, e de aperto nos estoques norte-americanos, mantém o alerta para o quadro de oferta e demanda em 2011.
No Brasil, a maior parte da área plantada está na fase final de desenvolvimento. A cada dia, uma parcela das lavouras escapa do risco climático, com o lento avanço da colheita. Depois de Mato Grosso, maior produtor nacional, foi a vez de o Paraná entrar com máquinas nas lavouras na última semana.
“Em termos de clima, a safra está salva no estado. Os atuais níveis de reserva de água no solo permitem até 15 sem chuvas”, diz Luiz Renato Lazinski, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Mas, em regiões onde o plantio foi finalizado mais tarde, como nos Campos Gerais, é necessária umidade até o final deste mês.
De todo modo, a condição das áreas paranaenses é boa, conforme a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Os primeiros números da colheita já fazem o mercado revisar para cima as estimativas de produção do estado, ante as projeções de recuo de ao menos 3% na produtividade.
Robson Mafioletti, analista da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), acredita que o Paraná tem condições de alcançar os 14 milhões de toneladas de soja nesta safra, “se tivermos a mesma produtividade de 2009/10”. Ano passado, o estado colheu 13,9 milhões de toneladas, conforme a Expedição Safra Gazeta do Povo. Para o Brasil, o quadro também é animador. “Se não chegarmos aos 70 milhões de toneladas de soja, ficaremos muito próximos disso”, estima. Segundo Mafioletti, três de cada quatro anos de La Niña têm quebra na produtividade.
Considerando também o milho, que teve redução de área, o Paraná tende a registrar queda no volume da colheita, que ano passado chegou a 20,6 milhões de toneladas, de acordo com a Expedição Safra. A justificativa está no rendimento da soja, que é a metade do volume de milho por hectare. Assim, a produção pode ficar abaixo de 20 milhões de toneladas mesmo sem quebra.
Com cotações animadoras, o ganho em renda é dado como certo. “Quem vai vender na colheita deve lucrar de R$ 5 a R$ 6 por saca de soja a mais do que no ano passado”, calcula Mafioletti.
No cenário internacional, a tendência é altista, pelo menos neste primeiro semestre, quando o mercado deve incentivar o plantio nos Estados Unidos, preveem analistas. O aperto nos estoques dos EUA de soja e milho e a perspectiva de crescimento das importações chinesas também alimentam esperanças de bons preços para os grãos.
Já no segundo semestre, se confirmada uma boa safra nos Estados Unidos, o mercado pode ficar enfraquecido, alerta Ricardo Lorenzent, consultor da XP Investimentos. “A recuperação do dóllar índex e um possível comportamento de aversão a risco por conta de aumento de juros nos Estados Unidos também podem ser fatores baixistas”, complementa.