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Economia

Doha não deslancha

União Europeia e Japão rejeitam proposta brasileira de acordo setorial que envolve a comercialização de produtos agrícolas.

A União Europeia e o Japão rechaçaram totalmente ontem a proposta do Brasil de acordo setorial na agricultura na Rodada Doha, jogando de novo a negociação global num sério impasse. “Detonaram a proposta brasileira”, disse um negociador. O argumento de europeus e japoneses é que eles já pagaram demais em agricultura e não estão ganhando nada para seus produtos industriais. Pelas suas declarações, Brasil, Índia e China deveriam fazer liberalização de forma unilateral.

Os Estados Unidos nem tiveram o trabalho de rejeitar a proposta brasileira, diante da posição de seus parceiros. Washington se concentrou em fazer demandas consideradas “absurdas” de abertura do mercado brasileiro para seus produtos industriais e serviços.

O desapontamento de negociadores brasileiros foi maior com a posição europeia pela guinada mais forte na direção dos EUA, no que pode inviabilizar ainda mais rapidamente os esforços para concluir a negociação global este ano.

Pelos acordos setoriais, os países interessados eliminam ou reduzem significativamente as alíquotas de importação de um segmento específico. O Brasil mencionou o setor de carnes como um dos que poderiam receber cortes tarifários maiores e em ritmo mais acelerado. O Brasil propusera um acordo setorial em agricultura para eventualmente “ajustar” sua oferta industrial e de serviços, ou seja, atender alguns pedidos dos países desenvolvidos.

Ontem à noite, o embaixador brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, confirmou que em substância não houve nenhum progresso na semana de discussão entre os países, considerando isso ainda mais desapontador em função do pouco tempo para tentar tirar Doha do impasse.

Para vários embaixadores, agora é tudo ou nada. Se Doha não for concluída até novembro, restará o enterro. Agora a discussão entrou em compasso de espera. A expectativa na cena comercial em Genebra é que ela dependerá da negociação bilateral entre os Estados Unidos e a China.

Em Paris, empresários insistiram na importância de concluir Doha este ano, porque do contrário a agenda precisará ser mudada para incorporar outros temas que reflitam a nova realidade, como questões trabalhistas. A ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, falou de tudo ontem para banqueiros, menos de comércio.