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Milho safrinha

Publicação "Grão em Grão" divulga entrevista com o pesquisador Jason de Oliveira Duarte, da Embrapa Milho e Sorgo, sobre esta safra de milho.

Milho safrinha

Esta edição do Grão em Grão publica entrevista feita com o pesquisador Jason de Oliveira Duarte, da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo. O tema é o milho de segunda safra, o ainda chamado milho safrinha, termo que, para muitos, não é mais adequado à produção e à produtividade conseguidas quando se planta a cultura fora da época tradicional.

1- Há perspectiva de crescimento, tanto na produção como na produtividade, na safrinha de milho em 2010?

As projeções feitas nessa época do ano para área cultivada geralmente não variam em relação ao tamanho da área do ano anterior. Isso implica em que as perspectivas de aumento ou diminuição de oferta de milho na safrinha estão baseadas nas mudanças nas produtividades que serão alcançadas nas regiões produtoras. Partindo daí, há uma expectativa de aumento de produtividade da safrinha. E, com esse aumento, é projetado também um aumento da produção. Esse aumento da produtividade está baseado em dois fatores principais. O primeiro está relacionado ao aumento de produtividade da safra de verão, que, apesar de redução da área cultivada com a cultura, está garantindo um nível de produção próximo ao da safra passada. O segundo é que as informações em nível de campo dão conta de que haverá um aumento do nível tecnológico do plantio de inverno em razão de aumento da produção de soja e de barateamento dos insumos usados na produção de milho. Considera-se que o aumento na produção de soja está associado também ao melhor nível tecnológico aplicado nessas lavouras e que seus resíduos serão benéficos para o cultivo do milho safrinha.

2- Que tipo de problema a safrinha continua enfrentando no País?

Os baixos preços sempre foram um fator de redução da produção. A teoria econômica e a pesquisa científica sempre apontaram para redução de produção e de área na safra seguinte àquela em que os preços foram baixos. Isso está relacionado ao comportamento do produtor. A expectativa dele é de que, com a diminuição da oferta, o preço volte a subir e, consequentemente, aumenta-se a produção. No ano passado, o preço pago para o milho safrinha no Centro-Oeste, e em especial no Mato Grosso, foi muito baixo e isso pode ser considerado um problema que sempre afetará a safrinha.

Observou-se a dificuldade com o escoamento da safrinha em algumas regiões produtoras, fazendo com que os preços de milho caíssem a níveis baixíssimos. Esses preços não remuneravam os fatores de produção empregados na safrinha e os produtores tendem a ficar temerosos se também não irão remunerar os fatores de produção na safra de verão.

Outro problema, que de certa forma é consequência dos preços e dos riscos climáticos associados ao cultivo de milho safrinha, é o menor uso de tecnologias associado a esses sistemas. Os sistemas de produção de milho empregados no cultivo de verão têm mais tecnologia intensiva que os usados no cultivo de safrinha.Isso implica em níveis de produtividade menores na safrinha. Porém, na maioria dos anos, esses níveis de produtividade são suficientes para remunerar a atividade.

3- O Centro-Oeste continuará sendo a região de maior produção na safrinha? Isso acontece apenas pelo plantio anterior da soja ou há outros fatores?

A resposta associa as duas perguntas. Enquanto o Centro-Oeste for o maior produtor de soja do País, ele será o maior produtor de safrinha, em especial do milho safrinha. Há uma associação positiva entre o cultivo da soja (uma oleaginosa) e o cultivo de milho (uma gramínea) em sucessão. A combinação é muito forte em termos agronômicos e é extremamente forte em termos econômicos, pois, entre as culturas possíveis de produção na safrinha, o milho apresenta maior volume de demanda e maior possibilidade de liquidez. Se acrescentarmos a isso a combinação dessas culturas para produção de proteínas (suínos e aves principalmente), veremos que o Centro-Oeste vem construindo uma estrutura de produção de consumo de soja e milho que implicará em maior demanda por esses grãos e ampliará a necessidade de cultivo em sucessão na região.

4- A safrinha de milho começou praticamente apenas como uma opção de rotação de culturas após a soja. Hoje, é possível afirmar que ela já é uma grande opção de renda para o produtor?

Ela sempre foi uma opção de renda para o agricultor. Se não fosse assim, ela não teria dado certo. Temos que pensar no agricultor como um empresário. Qualquer que for o tamanho do agricultor, ele é um empresário. Esse empresário toma decisões baseadas em vários fatores, mas o principal dele continua sendo a renda que advirá da atividade que ele está exercendo. Mesmo nos primórdios do cultivo de safrinha, o produtor pesava as opções de cultivo de diversas espécies e escolhia aquela que melhor respondia às suas expectativas de retorno. O cultivo do milho foi ocupando esse espaço pelo melhor resultado em termos de estabilidade de renda que o produtor poderia e pode ter.

5- De forma geral, é mais lucrativo plantar milho na safrinha ou outra cultura nessa época?

A questão principal é a estabilidade de renda, porque a questão de lucro está mais associada à safra de verão. No verão, o produtor toma a decisão mais baseada no que vai dar mais lucro para ele. Por exemplo, os preços relativos da soja, estando muito melhores que os preços relativos do milho, levam os produtores a optarem por expandir a área de soja em detrimento da área de milho. Novamente, a expectativa do produtor é de que, com os preços melhores para soja, ele possa ter um ganho maior em termos de renda líquida (lucro) com a expansão da área cultivada com essa cultura.

Por outro lado, o cultivo de safrinha tem associado à decisão de escolha da cultura os aspectos de localização geográfica da produção, o mercado, o que implica em liquidez do produto, e a infraestrutura de cultivo que ele tem na propriedade e sua adaptabilidade à cultura que sucederá o cultivo de verão. Para o produtor de soja, a cultura que mais se adequa a tais características é milho. Novamente, o empresário rural (familiar, pequeno, médio e grande) tem expectativas positivas em relação ao cultivo de milho, elegendo-o como o que pode lhe dar melhor resultado em termos de estabilidade de renda. As informações são da Embrapa Milho e Sorgo.