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Biocombustível

Até os ruralistas da UE aprovam o etanol

Mas, como não poderia deixar de ser, a grande central agrícola europeia que proteger produtores locais.

A poderosa central agrícola europeia Copa-Cogeca recebeu favoravelmente um novo estudo europeu que confirmou os reflexos positivos dos biocarburantes sobre a redução de gases de efeito-estufa. Apesar da chancela, o grupo insiste em garantir uma boa parte da produção aos próprios europeus.

O relatório do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI), por encomenda da União Europeia, mostrou que o etanol de cana-de-açúcar do Brasil é o mais eficiente para reduzir as emissões – mesmo levando-se em conta os efeitos indiretos do uso da terra -, e projetou importações “consideráveis” procedentes do Brasil.

Em comunicado, a Copa-Cogeca destacou que os biocombustíveis reduzem as emissões, diminuem a dependência europeia do petróleo e “promovem o emprego nas áreas rurais”.

A central identificou a expansão do consumo de biodiesel a partir de oleaginosas e de etanol a partir de cereais ou beterraba misturado à gasolina. E considera que a alta da demanda de matérias-primas agrícolas utilizada para produzir o biocarburante na UE até 2020 só necessita de um “leve” aumento da utilização de terras aráveis, entre 0,07% e 0,08%. Ou seja, a política europeia na promoção de biodiesel e etanol não terá efeito significativo no uso da terra em escala global.

Mas, contrariando o relatório, o grupo sustenta que esse efeito será maior se a liberalização do comércio dos produtos aumentar – ou seja, quer manter a maior fatia para os biocarburantes europeus, mesmo que a produção seja flagrantemente insuficiente para que a UE alcance suas metas.

A central agrícola europeia se apoia em pedir proteção, ainda mais no rastro de uma pesquisa da UE junto a 27 mil pessoas, divulgada ontem, que mostrou que os cidadãos europeus querem que o bloco gaste mais em subsídios para ajudar seus agricultores.

Os subsídios agrícolas na UE consomem 40% de um orçamento de US$ 175 bilhões por ano. Um novo orçamento está para ser negociado para os próximos anos. A maior surpresa é que 40% dos britânicos, dados como liberais, defendem mais ajuda para os agricultores, ante apenas 25% dos franceses. A França é o país que mais recebe subsídios agrícolas na UE.

De seu lado, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que reúne usinas sobretudo do Centro-Sul do Brasil, acredita que a conclusão do relatório do IFPRI na defesa de um comércio mais aberto para os combustíveis renováveis permitirá que a política de biocombustíveis da Europa cumpra com seu comprometimento de reduzir as emissões de carbono no setor de transportes, principalmente porque o biocombustível mais eficiente em termos de redução de emissões será utilizado: o etanol de cana do Brasil, que reduz as emissões de gases de efeito-estufa em até 90% se comparado à gasolina.

Emmanuel Desplechin, representante-chefe da Unica na UE, ressalva que o estudo traz também imprecisões. Entre elas, o tipo de terra para a expansão da cana, que não levou em consideração o Zoneamento Agroecológico da cultura no Brasil, que previne a expansão de canaviais sobre qualquer tipo de vegetação nativa.

Desplechin nota que outro estudo publicado em 2008 pela Universidade de Wageningen, na Holanda, prevê que cerca de 62% da expansão da cana no Centro-Sul do Brasil ocorrerá principalmente sobre áreas de pastagem, enquanto 37,8% se dará em terras ocupadas por outras culturas.

Já a Copa-Cogeca ressalvou que o estudo divulgado pela UE é marcado por várias incertezas, diante do fosso entre dados disponíveis e ausência de validação concreta das análises. A central considera especialmente “irrealista” anunciar que os rendimentos europeus cairão 10%, em média, até o ano de 2020.