A escassez do boi gordo para abate começou a afetar o funcionamento dos frigoríficos brasileiros. Tanto é que a maioria deles já reduziu os dias de abate e encurtou o prazo de escala (tempo de compra e entrega do boi) de uma semana para, no máximo, dois dias.
Segundo representantes do setor, a escassez foi causada pelo baixo preço do boi nos últimos cinco anos. Em 2005, por exemplo, a arroba chegou a ser comercializada a R$ 53. O desestímulo foi tanto que pecuaristas chegaram a mandar até matrizes para o abate, deixando de produzir bezerros.
No entanto, a escassez coincidiu com a elevação do consumo interno, a crise e a seca extrema. Resultado: aumento do preço da arroba para R$ 101,35 -valor registrado ontem pelo indicador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP (Universidade de São Paulo).
A escassez chega ao bolso do consumidor, e a carne já chega a custar mais que o bacalhau, conforme revelou a Folha nesta semana.
Na região de Ribeirão Preto, os frigoríficos diminuíram em até 30% o número de abates diário. No Barra Mansa, em Sertãozinho, a queda foi de 28,5% -de 700 cabeças para 500 cabeças de boi por dia. Já os dias de abate caíram de seis para quatro e, às vezes, até três.
Segundo o responsável pelas compras, Osmar Marques, o boi que era comprado para daqui a uma semana agora precisa ser adquirido e entregue em até 48 horas. Caso contrário, o frigorífico corre o risco de ficar sem carne. “E o trabalho, que era de segunda a sábado, agora é realizado de quarta a sexta.”
No Frigorífico Minerva, de Barretos- um dos maiores do País -, os dias de trabalho caíram de seis para cinco. E a queda só não foi maior porque a empresa, que tem nove frigoríficos espalhados pelo país, intensificou sua estratégia de mercado para conter a escassez de boi gordo.
“Estamos utilizando o nosso próprio confinamento para a engorda dos bois, inclusive com bois vindos dos nossos fornecedores”, disse o gerente de mercado do Minerva, Fabiano Tito Rosa.
Além disso, o frigorífico dobrou a compra futura de boi para 300 mil cabeças. “Desde o começo do ano estávamos com a impressão de que haveria uma escassez. Mas, já em maio, diagnosticamos a baixa oferta e intensificamos as estratégias de mercado”, disse.
Apesar da situação, o presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), Péricles Salazar, não acredita em desabastecimento. “Tudo que foge ao normal volta ao normal”.
Ele afirmou que a recuperação do mercado deve ocorrer em até dois anos. “Esse é o prazo para o produtor voltar a acreditar, investir em matrizes e bezerro, para lá na frente ter um gado em situação de abate”, disse. No entanto, a expectativa é que os preços atuais se mantenham até o final do ano.