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Bovinos

Boi mais caro

Arroba do boi gordo supera US$ 50,00. Real forte e oferta apertada contribuem para o aumento de preço do animal.

Boi mais caro

Real forte em relação ao dólar e preços firmes do boi gordo no mercado físico nacional – por causa da oferta apertada – levaram a arroba à maior cotação na moeda americana em quase dois anos, em valores nominais. Segundo levantamento da Scot Consultoria, ontem a cotação em dólar no mercado do interior paulista estava em US$ 50,28 – no dia 5 de setembro de 2008, havia alcançado US$ 51,12 a prazo. Em reais, os preços equivalem a R$ 89,00 e R$ 87,93, respectivamente.

Os cálculos da Scot foram fechados ontem no meio do dia, quando o dólar era cotado a R$ 1,77. Consideram o mercado de São Paulo que ainda é uma referência de preços, apesar de a pecuária ter perdido espaço para outras culturas nos últimos anos no Estado.

Historicamente, os preços em dólar da arroba do boi gordo no Brasil ficavam na casa dos US$ 28 a US$ 30, abaixo de mercados como Austrália e Uruguai, onde a cotação costumava ser maior já que a carne produzida tem qualidade superior à brasileira, observa Gabriela Tonini, analista da Scot.

Mas ontem, por exemplo, a arroba no Uruguai estava em US$ 48,90 e na Austrália, em US$ 41,40, de acordo com a Scot. “O real forte mudou a relação de preços”, afirma ela.

Já houve momentos de boi mais caro em dólar em períodos recentes – no dia 1º de agosto de 2008, a arroba bateu os US$ 57,82 em São Paulo. Naquele momento, o valor em real era R$ 91,84 por conta da oferta muito ajustada de animais para abate, reflexo da mudança de ciclo de produção na pecuária de corte. Então, havia também uma grande procura por conta do consumo forte nos mercados internacional e doméstico.

A situação mudou com a crise financeira global, a partir de setembro de 2008, que abateu a demanda por carne bovina em países da Europa e também na Rússia. Nesse novo cenário – com frigoríficos em dificuldade financeira e pedindo recuperação judicial -, a arroba despencou em dólares, para US$ 32 no dia 2 de março do ano passado, segundo a Scot.
A razão para a atual firmeza no mercado é que ainda há poucos animais de confinamento disponíveis para abate pelos frigoríficos, num período em que a oferta de gado de pasto já acabou.

Além disso, a recomposição da oferta de animais está demorando mais do que se imaginava. Em 2005, houve um forte descarte de matrizes, o que reduziu a oferta de bezerros nos anos seguintes. Esperava-se uma recomposição do rebanho com a alta dos preços do boi. Mas a escassez continua. “O atual ciclo [de produção] pode se prolongar para 2011”, avalia José Vicente Ferraz, do Instituto FNP.

Para ele, diante disso, mesmo com a maior entrada de animais criados de forma intensiva no mercado em setembro e outubro, os preços da arroba devem cair “muito pouco”. Gabriela Tonini acredita que há pouco espaço para quedas.

A alta do boi já tem reflexos no bolso do consumidor e na inflação. O último IPCA-15 mostra alta de 1,4% no segmento de carnes bovinas, conforme dados consolidados da LCA Consultores. Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe na segunda quadrissemana de agosto revelou variação de 0,98% nas carnes bovinas.

Francisco Pessoa Faria, analista da LCA, afirma que a valorização da carne terá impacto no IPCA, mas ele espera que até o fim do ano a alta seja “devolvida”. A razão é sua crença de que os números de confinamento de gado no país possam ser maiores do que o esperado, o que significaria mais oferta de bois para abate. A estimativa da LCA é que a carne bovina terá variação de 7,3% no ano, enquanto o IPCA deve ficar em 4,9%.