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Transgênicos

OGM em alta no PR

Sementes de milho e soja transgênicas respondem por 80% da área plantada no Paraná. Oleaginosa prevalece.

OGM em alta no PR

Quatro anos após o fim da guerra aos transgênicos no Paraná, a soja e o milho geneticamente modificados representam cerca de 80% dos 233 mil hectares plantados na região de Maringá para a safra 2010/2011 – 230 mil deles só de soja. Demonizada no governo de Roberto Requião (PMDB), hoje a transgenia está presente desde o óleo de soja à espiga de milho que vai para a panela. E o frango assado que vai à mesa só comeu soja e milho, muito provalmente transgênicos, durante seus 60 dias de vida.

O cálculo do volume de transgênicos é feito com base na comercialização de sementes da Cocamar, maior cooperativa da região. Para a safra 2010/2011, 83% das sementes de soja vendidas pela cooperativa são transgênicas. Na safra passada foram 80%. Para a safra de verão do milho, 80% das sementes vendidas são geneticamente modificadas. Na safrinha colhida este ano, elas correspondiam a 60%.

O avanço dos transgênicos não é exclusividade da região. No Paraná, a média para esta safra também é de 80% de soja transgênica, conforme cálculos das cooperativas que fornecem sementes. Na região da cooperativa Coamo, com base em Campo Mourão, a soja transgênica chega próxima a 90%.

De acordo com informações do governo, no ano passado o Brasil produziu 60% de soja transgênica e 40% da comum. A produção mundial de todas as variedades é de 260 milhões de toneladas por ano. Os Estados Unidos produzem 91 milhões de toneladas, sendo 80% de transgênicos, e o Brasil cerca de 70 milhões de toneladas anuais. Entre os Estados brasileiros, Mato Grosso produz 18,7 milhões de toneladas e o Paraná 14,1 milhões de toneladas de soja.

Até o momento não há comprovação de que comer esse tipo de alimento faça mal para a saúde. O que se discute hoje é o impacto disso na natureza. O aumento do uso de agrotóxicos, no caso da soja, e a falta de fiscalização sobre medidas de segurança previstas em lei para o milho.

“A discussão hoje é do ponto de vista ecológico”, lembra o pesquisador Ronald José Barth Pinto, professor do departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Maringá e doutor em engenharia genética agroflorestal.

O pesquisador lembra que antes da era dos transgênicos os agricultores da região gastavam cerca de 500 ml de herbicida por hectare de soja. Com a planta geneticamente alterada para resistir ao herbicida, as aplicações ficaram mais frequentes e as pragas adquiriram resistência. “Hoje já estão usando de 2 a 3 litros de herbicida por hectare, já tem gente prevendo que vai chegar a 5 litros”, relata.

Milho

No caso do milho, o temor, de acordo com o professor da UEM, é que os insetos ganhem resistência ao veneno embutido na planta. O milho transgênico conta com um componente que mata a lagarta que comê-lo.

Para evitar que apareçam lagartas resistentes à toxina transgênica, a recomendação é que se plante áreas de milho comum. Como o gene de mutação é recessivo, a ideia é que as superlagartas acasalem com lagartas comuns, alimentadas pelo milho comum, e gerem filhotes não resistentes ao alimento transgênico. Mas não há fiscalização sobre a reserva de áreas de milho comum nas lavouras. “Fico preocupado com isso, porque semear a área de refúgio não é prático para o produtor. Ele enche a semeadeira e toca em frente”.

O resultado é que, na prática, se recomenda um refúgio de milho comum nas lavouras trangênicas, mas não se tem ideia de quanto isso tem sido praticado. Assim como não há controle do isolamento de lavouras de milho transgênico para as plantações dos vizinhos. De acordo com o chefe da Área de Fiscalização do Comércio de Sementes no Estado do Paraná, Afonso Sikora, a legislação prevê uma distância de 20 metros, com obstáculos no caminho.

“O drama da contaminação não está equacionado. E já sabemos que essa distância é insuficiente, ela pode ocorrer com uma distância de até 200 metros”,diz.

Perseguição

Sikora lembra que, apesar do fim da perseguição à transgenia, ainda há produtores respondendo processos por conta de terem plantado soja geneticamente modificada. Entre 2003 e 2005, produtores paranaenses traziam as sementes do Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina. O resultado é que silos foram lacrados, lavouras interditadas e sacas apreendidas pelo governo.

A guerra aos transgênicos foi uma das bandeiras de Requião. Oficialmente, a alegação era que o Estado não tinha condições de classificar os dois tipos de soja, conforme prevê a Lei de Biossegurança.

Durante o período do combate às sementes, Requião chegou a chamar o Ministério da Agricultura de “Ministério da Transgenia” e se referia ao plantio de transgênicos como “contaminação”. Após derrotas do governo na Justiça, a primeira safra oficialmente liberada no Estado foi plantada em 2006.

Agrotóxicos

Para a engenheira agrônoma do Departamento de Fiscalização de Insumos (DFI), em Maringá, Daniela Galvão, ainda é cedo para crucificar os transgênicos pelo aumento do uso dos agrotóxicos. “Tem outros fatores que colaboraram muito”, diz. Entre os motivos, a agrônoma responsabiliza a rotatividade nas lavouras.

“Pelo plantio contínuo de lavouras de soja, sem rotação, algumas plantas desenvolveram resistência ao glifosato, como a buva. Isso vai contribuindo para aumentar a quantidade de agrotóxicos”, diz a agrônoma, que está há 21 anos na Secretaria de Abastecimento do Estado.

Em expansão

690 mil toneladas é a safra de soja prevista na região de Maringá
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