Redação (12/03/2009) – Ela se reproduz em progressão geométrica, adora calor e tem fome de leão. Nas safras agrícolas, tornou-se uma praga constante no campo brasileiro. Pergunte a um produtor e a resposta virá no ato: um descuido e a mosca branca acarretará perdas substanciais, comprometendo até 20% da safra de grãos e hortaliças.
Há menos de duas décadas no país, este inseto de um milímetro de comprimento originário da Ásia Central volta a preocupar. Já provocou estragos nesta safra em lavouras de soja e feijão de Mato Grosso e sua presença já ameaça a próxima safra no Centro-Oeste.
O melhor remédio, até agora, tem sido o controle químico e o manejo cuidadoso – especialistas são unânimes em dizer que a incidência de mosca branca em áreas agrícolas é uma ameaça de alto risco devido ao seu poder de destruição. "Ela ataca a parte de baixo das folhas e suga a seiva, competindo com a planta por alimento", explica Luiz André Lourenção, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) para controle de pragas. Se não detectado a tempo, portanto, o inseto pode jogar por terra as expectativas de uma boa safra.
Quando infectada, a pequenina mosca transmite o geminivírus, que retarda o crescimento da planta e leva ao amadurecimento precoce de frutos. Nos tomates, uma de suas maiores vítimas, o vírus causa o mosaico dourado, doença que diminui a produtividade da lavoura e atrai milhares de reais em pesquisas da indústria de sementes de hortaliças. Uma das apostas mais fortes nessa área é o melhoramento genético convencional da planta, tornando-a resistente à praga.
Responsável por 80% da produção de tomate para as indústrias, Goiás registrou prejuízos significativos com a incidência do inseto. Jorge Hasegawa, engenheiro agrônomo, presenciou perdas de 40% a 100% nas lavouras de tomaticultura, que tampouco pouparam produtores do Estado de São Paulo. Segundo ele, no Ceará, onde a produção é ininterrupta, a população de mosca branca ainda não foi diminuída, apesar das aplicações de inseticidas. "O produtor deve elevar de 45 para 60 aplicações de inseticida ao longo do ciclo da cultura", afirma o especialista.
O bolso do produtor, claro, sente. O custo de produção em anos críticos – quando entre 15% e 20% da produção é afetada – atinge US$ 100 por hectare nas lavouras de algodão e US$ 60 por hectare de soja, acima do usual.
Geni Litvin Villas Boas, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), explica que por se adaptar aos hospedeiros a mosca tornou-se um problema sério. "O governo federal criou uma instrução normativa para estabelecer o período exato de plantio de tomate em Goiás", diz a pesquisadora. "Antes era um problema localizado em hortaliças. Com o tempo foi disseminando em lavouras de algodão, soja e feijão", diz ela.
Natural do Paquistão e da Índia, a mosca branca se espalhou pelo mundo através do comércio de plantas, sobretudo ornamentais. Chegou ao Brasil nos anos 90, com os primeiros registros na região de Holambra e Paulínia, interior de São Paulo. A Bemísia tabaci biotipo B é a mais agressivo. Entre suas preferências estão mais de 650 tipos de plantas – especialmente as de folhas largas. "A mosca branca é uma das principais pragas no Brasil hoje", afirma Lourenção, do IAC.
O controle por meio de aplicação de defensivos tornou-se eficaz, diz o engenheiro agrônomo Luciano Gonçalves, assessor técnico da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso). "Há alguns anos mosca deixou de ser protagonista para se tornar coadjuvante nas lavouras". Mas, segundo ele, a volta da praga ocorreu, provavelmente porque os produtores reduziram a aplicação de insumos diante da atual crise.
Em algumas das principais regiões de soja do Mato Grosso, maior Estado produtor da oleaginosa do país, a mosca branca reduziu a produtividade em 2%. Parece pouco, mas em tempos bicudos, explica Gonçalves, a redução de duas a três sacas por hectares pode comprometer a renda do produtor. "Em uma área totalmente infestada, o prejuízo pode ser de mais de 20% da safra", diz.
A preocupação dos produtores agora é com a próxima safra. A praga atacou as lavouras de feijão do Estado, cultura com participação pequena no país. "No entanto, elas migram de uma lavoura para outra", diz.
Para José Geraldo Baldini, diretor do departamento de sanidade vegetal da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, a Bemísia Tabaci não é uma praga quarentenária presente – sua incidência está controlada. Segundo ele, um surto dessa praga tem de ser informado para a área de extensão rural de cada região para seu controle.