Redação (23/03/2009)- O clima era de camaradagem e celebração no encontro dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, na sexta-feira, em São Paulo. Ainda assim, ficaram evidentes as divergências entre os dois sobre a adoção de medidas protecionistas para combater os efeitos da crise global.
Ao ser questionada pela imprensa sobre o tema, Cristina argumentou que medidas de proteção estão "de um lado e de outro", que o Brasil desvalorizou a moeda e que os Estados concedem benefícios tributários. "Pretender que uma licença não-automática para não aprofundar esse déficit comercial monstruoso se trata de uma medida protecionista é um exercício de reducionismo", disse.
Lula respondeu que não vê contradição entre sua campanha global contra o protecionismo e a paciência com a Argentina, e escolheu como o exemplo o conturbado episódio da adoção licenças de importação (o mesmo artifício da Argentina), o que acabou ressaltando as diferenças com Cristina.
"Quando a Argentina tomou a decisão de prolongar a liberação das exportações (brasileiras), o Miguel Jorge (ministro do Desenvolvimento) e o Guido Mantega (Fazenda) tomaram a mesma medida, mas determinei que voltassem atrás, porque não era essa a lógica", disse Lula. "A lógica é fazer exatamente o que acontece aqui hoje. Ou seja, os empresários conversaram", completou.
É engano, porém, imaginar que isso significa uma postura mais dura com a Argentina. Pelo contrário. Lula frisou que as medidas argentinas são "normais" e fez vários gestos de boa-vontade . Ele prometeu "encontrar o burocrata" que impede a vendas de vacinas argentinas no país; transformar de "protocolo em dinheiro" o convênio do Banco de La Nación com o BNDES; e pediu aos empresários locais que se associem aos argentinos para as licitações da Petrobras.
Era evidente o esforço dos presidentes e de suas diplomacias para esquecer o atrito comercial, inclusive com brincadeiras sobre o recorde de 500 empresários argentinos em São Paulo, mas o tema esteve presente em todos os discursos e nas rodas dos empresários.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, manteve a promessa de ser bom anfitrião, mas frisou que "não podemos aceitar desvio de comércio". O presidente da União da Indústria Argentina (UIA), Juan Carlos Lascurain, disse que seu país segue no caminho da reindustrialização e pediu a "compreensão do Brasil".