Redação (09/02/2009)- Da panela vem o cheiro que lembra o passado, o fogão a lenha e o almoço feito pelas avós. A carne firme e saborosa denuncia a atração do cardápio do dia: o frango é caipira, ou, pelo menos, um caipira estilizado. A ave, criada no modelo semi-intensivo, se alimenta de ração e milho, mas, também, do pasto e, com essas características, alcança escala comercial de produção. A oferta, ainda reduzida, é apontada como responsável pelo preço que chega a superar em quatro vezes o de um frango de granja comum. A diferença, no entanto, não inibe o mercado consumidor, em expansão nas casas especializadas e até em supermercados.
O número de granjas nessa modalidade cresce em Minas Gerais, revelando um negócio lucrativo que segue firme, a despeito dos efeitos da crise econômica mundial, e até com expectativas de exportação. O preço do frango caipira varia no estado, dependendo da região, e pode chegar a R$ 9 por quilo, enquanto a ave de granja custa pouco mais de R$ 2. “A oferta é muito pequena, por isso os preços são compensadores”, explica o coordenador estadual do Departamento de Pequenos Animais da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Minas, Dirceu Alves Ferreira. Ele afirma que a criação do frango caipira no modelo semi-intensivo tem se revelado alternativa para granjas e pequenos produtores rurais.
Em Jaboticatubas, na Grande Belo Horizonte, José Avelino segue a tradição familiar, criando frangos genuinamente caipira. São cerca de 100 aves no plantel e 20 abates por mês. A produção é disputada por clubes e restaurantes da cidade. Avelino sabe que a demanda maior que a oferta cria oportunidades, mas não consegue aumentar sua produção. “O frango caipira só atinge peso para o abate aos seis meses. A criação é demorada”, justifica.
Para resolver o problema enfrentado pelo produtor é que foi desenvolvido o modelo semi-intensivo de criação. Enquanto o frango caipira leva seis meses para atingir o peso ideal, aos três meses a ave criada no modelo semi-intensivo está pronta para ser consumida. A principal diferença está na ração usada na alimentação dos animais durante o primeiro mês de vida, o que impulsiona o seu desenvolvimento e permite o abate precoce.
Quem cria o “semicaipira” garante que o negócio é tão bom quanto o produto. O proprietário da Granja Frango do Sítio, Eduardo Coura, diz que até o momento nenhum vestígio da crise mundial chegou aos negócios. Há seis anos, quando começou a criação na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a produção mensal era de 160 frangos. Hoje, são 950 aves abatidas ao mês. O frango da raça label rouge, ou pescoço pelado, é comercializado a R$ 5,95, o quilo, a comerciantes de Belo Horizonte e Lagoa Santa. “O que não falta é mercado consumidor”, observa Eduardo.
Antônio Augusto Coelho, professor do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), observa que a exportação pode ser uma nova aposta dos produtores. Em virtude de leis aprovadas para garantir o bem-estar animal, até 2012 as aves criadas nos países da Europa terão que desfrutar de mais espaço nas granjas, o que vai inibir os confinamentos, e com isso podem surgir restrições à oferta. “Pode ser um interessante mercado consumidor de aves brasileiras”, afirma.