Braço do frigorífico Bertin, um dos maiores do País, para engorda, criação e confinamento de gado, a Comapi Agropecuária decidiu refazer contratos com propriedades com as quais mantém algum vínculo comercial. O objetivo é se resguardar diante de irregularidades ambientais e trabalhistas nessa cadeia de fornecedores.
Nos contratos em vigor, como de comodato e de arrendamento de terra para a criação de gado, serão adicionadas cláusulas socioambientais. São 16 propriedades, espalhadas por três Estados: Tocantins, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Nessas novas cláusulas, segundo a Comapi, os terceirizados terão de assumir quatro compromissos, sob pena de terem os contratos bloqueados.
Assim que os contratos forem refeitos, as propriedades não poderão: 1) ter a área embargada por conta de desmatamento ilegal; 2) sofrer condenação por trabalho análogo à escravidão; 3) ser oriunda de grilagem; e 4) ser palco de conflitos agrários ou indígenas.
“A empresa se valerá das informações públicas divulgadas pelos órgãos competentes para monitorar tais requisitos. Ocorrendo qualquer violação das cláusulas socioambientais, a Comapi bloqueará o fornecedor”, afirmou a empresa, por meio de sua assessoria.
A revisão desses contratos nada mais é do que uma reação do Bertin a acontecimentos recentes que abalaram a imagem do grupo tanto no mercado nacional como internacional.
Trabalho escravo – A luz amarela acendeu quando o Ministério Público Federal no Pará acusou a empresa de comprar gado de áreas desmatadas ilegalmente na região amazônica. O Bertin assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com os procuradores, mas, logo em seguida, acabou envolvido num flagrante de trabalho escravo.
Fiscais do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho localizaram e resgataram no Tocantins trabalhadores em situação análoga à escravidão numa fazenda parceira da Comapi – a empresa comprava silagem produzida nessa área terceirizada.
Essa revisão de contrato com 16 propriedades visa justamente resguardar a empresa desse tipo de situação. O Bertin tem como sócio o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que investiu R$ 2,5 bilhões e detém atualmente 26% do capital do frigorífico.
“As mudanças nas relações trabalhistas e ambientais ocorrem com velocidade. E nós precisamos atuar com a mesma velocidade dessa modernização”, afirmou Fernando Saltão, diretor da Comapi Agropecuária.
Além da revisão dos contratos, o Bertin promete fazer visitas in loco a todas essas propriedades. Auditores irão checar não só o cumprimento das normas ambientais e trabalhistas mas também as condições de alimentação e de alojamento dos trabalhadores.