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Meio Ambiente

Pecuária gera 44% das emissões

<p>Amazônia tem 23,4 milhões de hectares de pasto em estágio de severa degradação, diz Imazon.</p>

A pecuária na Amazônia responde por algo próximo a 44% das emissões de gases-estufa do Brasil. O dado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) projeta que o desmatamento representa 55% das emissões brasileiras e que a fatia do boi pastando na região corresponde a 80% deste total. Para corrigir a rota até agora bem pouco sustentável do setor, está em curso um movimento de rastreabilidade da cadeia produtiva e certificação, além de cenários de recuperação das áreas onde não há mais floresta e até o pasto empobreceu.

“A pecuária cresceu muito na região, com desmatamento, e como esta situação não é mais tolerável, temos que imaginar o que vai acontecer com a atividade no futuro” disse ontem o pesquisador Paulo Barreto, do Imazon, no workshop internacional sobre “Soluções para o desmatamento e emissões de gases de efeito estufa causadas pela expansão da pecuária”, em São Paulo. O próximo passo, segundo ele, é o governo dar condições ao setor que facilitem a regularização fundiária, ambiental e social. É preciso mais governabilidade – exemplifica com a Secretaria do Meio Ambiente do Pará que fica em Belém e deve ter atuação maior no interior do Estado – e transparência nos órgãos envolvidos em dar sustentabilidade à cadeia produtiva.

A situação do gado na Amazônia é uma contínua caixa de surpresas. A região responde por 36% das pastagens do País, 35% do rebanho e 35% da produção de carne. Mas segundo dados de Judson Ferreira Valentim, chefe geral da Embrapa-Acre, apenas 4,6% das 18.489 propriedades do Estado têm mais de 1.500 cabeças de gado. “A pecuária é a caderneta de poupança da Amazônia”, diz ele. “É uma atividade de preço estável, baixo risco, fonte de leite para famílias, meio de transporte. Vamos ter que pensar o que fazer com este grande contingente de pessoas”, alertou Valentim.

Nas suas estimativas existem 57 milhões de hectares de áreas de pastagens na Amazônia. Deste total, 23,4 milhões de hectares têm baixa produtividade e estão em estágio de severa degradação. “Quanto mais cedo o produtor enfrentar a degradação, menor o custo”, aconselha. O capim branchiara não se adaptou muito bem à região e foi morrendo. A Embrapa estudou três cenários e estimou custos para a recuperação das pastagens. A opção mais barata usa um sistema de recuperação mecanizado e é de algo ao redor de R$ 602,00 por hectare; no horizonte mais caro, que exigirá herbicidas, adubação e retirada de tocos de árvores, o valor sobe para R$ 891,00. O sistema manual é bem mais barato (R$ 196,00 por hectare), inclui a adubação natural com a introdução de espécies como amendoim, que ajudam a enriquecer o solo, mas exige mais tempo.

Havia 160 inscritos no workshop entre representantes dos grandes frigoríficos (Friboi, Marfrig, Independente, Berton e Minerva), bancos (BNDES, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander e Rabobank), além de associações de criadores, ambientalistas e pesquisadores. A ideia era aprofundar a sintonia entre quem financia o gado na Amazônia, quem produz e quem compra, explica Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra Amazônia Brasileira, que organizou o evento junto com Greenpeace, Imazon, Aliança da Terra, National Wildlife Federation e Forest Footprint Disclosure. “São ações que podem acontecer imediatamente dentro da cadeia sem precisar regulamentação do governo”, diz Smeraldi.

Os supermercados implantam um programa que exigirá certificação dos produtos para serem incluídos nas compras. A iniciativa, liderada pelo WalMart, Pão de Açúcar e Carrefour começa a se espalhar pelas 50 maiores empresas varejistas do País.