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SC se prepara para vender carne suína à Europa

<p>As agroindústrias de SC começam a reforçar procedimentos de defesa sanitária e de biossegurança na área de suínos para conquistar compradores europeus.</p>

Redação SI (10/07/07) – Com negociações já em curso para venda de cortes suínos à França, Itália e Espanha, o setor acelera mudanças como a informatização, com localização de granjas via satélite por georreferenciamento, e maior rigor nas atividades do produtor. Com isso, o setor pretende ter o aval de uma auditoria da União Européia, prevista para este semestre, para vender o produto ao bloco. 

As mudanças chegam para aprimorar ações que já foram iniciadas pelas empresas em parceria com o Estado, e que resultaram em maio deste ano no reconhecimento de Santa Catarina pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) como área livre de febre aftosa sem vacinação, status único entre os Estados brasileiros. Além de um sistema de georreferenciamento das granjas de suínos, as empresas reforçam o treinamento de equipes no campo e os trabalhos de conscientização do produtor em relação à limpeza e ao controle de visitantes nas granjas. 

"Se não estiver todo o setor pronto, vamos ser reprovados como em 2002, quando recebemos uma missão da União Européia", diz Felipe Luz, diretor de relações institucionais da Sadia. Em 2002, quando uma missão visitou Santa Catarina, foram reprovados diversos pontos, entre eles o uso de medicamentos não aceitos pela OIE nos suínos – hoje as indústrias dizem seguir os padrões determinados – e a qualidade do serviço de defesa sanitária. Ainda não há data para a nova missão, mas as agroindústrias querem que ela ocorra entre outubro e novembro. Antes, passarão por uma auditoria do Ministério da Agricultura, que ainda não está marcada. 

A entrada no mercado europeu é fundamental para o Estado porque serviria de "passaporte" para Santa Catarina acessar outros países que levam em conta a auditoria européia. Com a venda para os europeus, o Estado pode começar a recuperar o vigor de um setor que exportou US$ 504 milhões em 2005, e que ficou abalado depois do embargo russo, ocorrido por conta de focos de aftosa no Paraná e no Mato Grosso do Sul, no fim de 2005. 

Os investimentos das indústrias nessas melhorias estão sendo feitos por meio do Instituto Catarinense de Sanidade Animal (Icasa), criado por elas mesmas em 2005 para reforçar a estrutura do governo, e pelo Sindicarnes-SC. O Icasa contratou 119 fiscais, 150 auxiliares, computadores e carros para os trabalhos técnicos, ainda em 2006, e o Sindicarnes foi responsável pelo sistema de georreferenciamento, contratado junto à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 

Segundo o professor da UFSM, Enio Giotto, com o georreferenciamento há um controle da população de suínos e da localização das propriedades. "Agora as empresas sabem onde está localizada cada propriedade, e podem intervir rapidamente caso ocorra algum problema sanitário", diz. Sindicarnes, Ministério da Agricultura e Cidasc (empresa de controle sanitário de SC) possuem as informações também, e agora o banco de dados está sendo "acoplado" à Guia de Trânsito Animal (GTA) eletrônica, para que o Estado tenha melhor controle sobre o trânsito animal. 

Ricardo Gouvêa, diretor do Sindicarnes-SC e presidente do Icasa, não revela os investimentos totais, mas explica que além deles há ainda outros recursos que estão sendo aplicados por cada empresa e produtor a fim de melhorar seus sistemas próprios. "A orientação é para que os produtores façam ao menos o básico: restrinjam a entrada de pessoas nas granjas, cuidem da limpeza das instalações e do manejo dos animais", afirma. 

A Coopercentral Aurora iniciou no dia 27 de junho um treinamento de técnicos que visitam as granjas de suínos para aprimorar a rastreabilidade do produto. A cooperativa quer ter um controle maior da produção, desde a ração do animal até o seu abate. "Hoje, temos uma idéia disso", diz Mário Lanznáster, presidente da Aurora. 

Segundo ele, alguns produtores possuem bons controles, os suínos são identificados, mas isso não ocorre em todas as propriedades. Lanznáster afirma que em todo o setor ainda há granjas que permitem a entrada de pessoas – o que não é recomendado. Há ainda uma pequena parcela que tem sistema de produção bem antigo, em que o criador trabalha de pés descalços. Na avaliação de Lanznáster, entre os 6,6 mil integrados da Aurora, 20% estão em condições ótimas, 40% em condições medianas e outros 40% precisam melhorar muito. 

O executivo, que está negociando com cooperativas da França e da Espanha parcerias comerciais, destaca que será preciso conquistar os europeus com um sistema exemplar de produção e defesa. "O comprador europeu terá que ficar muito satisfeito com a operação aqui porque criadores de lá não querem perder mercado e já estão fazendo pressão para que não sejam compradas carnes suínas do Brasil", diz ele, que esteve há poucos dias na Europa. 

Luiz Stábile, diretor de tecnologia da Perdigão, afirma que em geral as empresas estão focando para não só serem aceitas pelos importadores europeus, mas para surpreendê-los. Segundo Stábile, a Perdigão vem ampliando o número de produtores integrados para ter mais controle da produção, e pretende modificar suas granjas, com o uso, por exemplo, de cercas, para dar maior segurança sanitária. Ele diz que entre os projetos para os próximos meses está também a diminuição significativa do número de produtores por lote de abate dentro do frigorífico. 

Já o diretor da área de suínos da Seara/Cargill, Paulo Tramontini, diz que a empresa tem trabalhado junto aos produtores para que as propriedades se adaptem com lagoas de dejetos, assim como uma área adequada para a compostagem dos dejetos do sanimais, levando-se em conta uma preocupação cada vez maior da União Européia com as questões ambientais. "Estamos apressando o ritmo das mudanças", diz.