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Agronegócio e a evolução da agenda ESG no Brasil - por Cláudio Antonio Machado

Em síntese, a agenda ESG tem implicações para os diversos agentes do agronegócio, especialmente aqueles inseridos nas cadeias globais de valor

Agronegócio e a evolução da agenda ESG no Brasil - por Cláudio Antonio Machado
Por: Cláudio Antonio Pinheiro Machado Filho | Coordenador do PENSA da FIA Business School

A popularização do termo “agronegócio” no Brasil, acarretou uma simplificação distorcida
do seu conceito. O “Agronegócio” passou a ser percebido por alguns setores da sociedade
como o elo rural representado mais especificamente pelos “grandes produtores rurais”,
não raro sendo associados erroneamente a práticas insustentáveis e ilegais. É preciso
retomar o conceito original do “agronegócio” e sua importância para a sociedade
brasileira.

Resgatando as origens, o termo “agronegócio” é a tradução do conceito de “agribusiness”,
introduzido na literatura pelos professores John Davis e Ray Goldberg, da Universidade de
Harvard, em 1957. A definição ampla do termo implica ter uma abordagem sistêmica. No
Brasil, os Professores Decio Zylbersztajn e Elizabeth Farina, instituidores do PENSA no
início dos anos 1990, adaptaram o conceito de agribusiness, caracterizando-o como o
conjunto de “Sistemas Agroindustriais” (SAG´s), que na sua totalidade representa
atualmente cerca de 24% do PIB brasileiro (CEPEA, 2023), gerando 27% dos empregos no
país. (CNA, 2023).

Os sistemas agroindustriais são formados por uma variedade de organizações, desde
grandes corporações globais e locais das indústrias de agroquímicos, máquinas e
equipamentos, distribuidores de insumos, produtores rurais de distintos portes,
cooperativas, processadores e distribuidores de alimentos, energias e fibras. O
crescimento expressivo da inserção de commodities agrícolas nas cadeias globais de valor,
puxados pela soja, milho, algodão, carne bovina, aves, café, suco de laranja, açúcar e
celulose elevou o patamar do Brasil como um grande player no mercado global destes
produtos. E esta inserção global não implicou em redução de consumo interno de
alimentos por escassez de oferta. São inegáveis os impactos positivos para a economia do
país.

Este protagonismo obtido ao longo de décadas elevou a responsabilidade dos agentes do
agro para consolidação e ampliação das conquistas do setor. Podemos citar alguns hot
topics que permeiam, com maior ou menor intensidade, os diferentes elos dos principais
sistemas agroindustriais, que se caracterizam como desafios e ao mesmo tempo

oportunidades. Nos próximos artigos abordarei muitos outros temas importantes, como: a
evolução da geopolítica e sua implicação para o agronegócio brasileiro; mudanças
climáticas, acordos globais para redução de combustíveis fósseis e a emergência do
mercado de carbono; novos mecanismos de financiamento da atividade rural e mercado
de capitais; e a evolução dos processos de governança e sucessão em propriedades rurais,
do pequeno ao grande negócio.
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Mas hoje, vou focar na coordenação de sistemas agroindustriais (SAG´s) e a agenda ESG.
As empresas dos diferentes elos dos SAG´s (antes, dentro e depois da porteira) são
heterogêneas, mas é crescente a internalização do conceito ESG (conformidade em
práticas ambientais, sociais e de governança). Pela própria natureza das atividades
agroindustriais, tanto o aspecto ambiental (E) quanto o social (S) têm uma importância
muito grande na forma de coordenação dos SAG´s.

E a forma como as empresas são “governadas” (G) define como as temáticas sociais e ambientais são tratadas. Notadamente, as grandes empresas do agro são cobradas em relação à coordenação de sistemas produtivos complexos, gerenciando relações contratuais ao longo dos SAG´s onde estão inseridas. Essas empresas estão mais expostas à economia globalizada e às demandas de variados grupos de pressão (investidores, consumidores, ONGs, governos, barreiras comerciais etc.). A lógica da Governança da organização avança para a Governança de Sistemas Agroindustriais, envolvendo a coordenação da originação e a
rastreabilidade dos produtos transacionados.

O alinhamento estratégico com diferentes stakeholders (partes interessadas) associados
às empresas do Agro já faz parte do mainstream dos negócios. Os investidores desejam
maior transparência, prestação de contas e resultados expressivos em conformidade com
a agenda ESG. As redes varejistas, ponta final das cadeias de distribuição de alimentos,
repassam as pressões dos consumidores por menores preços, maior qualidade e sinais de
boas práticas ao longo de todo o SAG. Grupos de pressão da sociedade civil miram as
corporações, como alvos preferidos nestes tempos de globalização e mudanças climáticas.
O ambiente legal impõe maiores restrições e sanções para práticas que possam gerar
potenciais externalidades negativas à sociedade.

Em síntese, a agenda ESG tem implicações para os diversos agentes do agronegócio,
especialmente aqueles inseridos nas cadeias globais de valor. E tendo em vista as suas
características, as oportunidades que se abrem com esta agenda podem superar muito
suas restrições e condicionantes. Os sistemas agroindustriais brasileiros em grande
medida estão em conformidade com as melhores práticas, mas carecem de comunicação
mais efetiva com a sociedade. Cabe aos agentes do agro aproveitarem esta realidade para
ampliar o seu protagonismo, melhorar a comunicação (interna e externa) e consolidar o
Brasil como uma grande potência produtiva e ambiental.