Os agricultores do Brasil, maior produtor e exportador de soja no mundo, devem ampliar a área de plantio da oleaginosa em torno de 3% na safra 2022/23, que começa a ser semeada a partir de setembro, diante da expectativa de rentabilidade ainda positiva, mesmo em um ambiente de custos mais elevados.
Levantamento realizado pela Reuters com oito analistas indica que a área semeada com soja pode atingir recorde de 42,2 milhões de hectares na nova temporada, abrindo caminho para elevações na produção do grão aliadas a um aumento potencial de produtividade.
Com isso, a projeção preliminar dos especialistas aponta para uma safra histórica de 147,9 milhões de toneladas, mas nas perspectivas mais otimistas há quem veja possibilidade de a produção superar 150 milhões (veja tabela abaixo).
“O cenário positivo das margens operacionais para a safra 2022/23 levará a um aumento da área plantada de soja. Apesar da alta dos principais insumos agrícolas, o cenário ainda incentivará o produtor a aumentar a área”, disse a analista do Rabobank Brasil Marcela Marini.
A analista da consultoria AgRural Daniele Siqueira afirmou que os custos mais altos limitam o avanço da área, mas não o impedem.
Para ela, a rentabilidade da cultura não será tão alta quanto a da safra 21/22, mas ainda assim faz sentido para o produtor.
No ciclo 2021/22, considerando o médio-norte de Mato Grosso, que teve uma boa safra, a projeção é de uma rentabilidade histórica de 130% sobre o custo operacional de produção para proprietários da terra, segundo a AgRural.
Para a nova safra, Siqueira acredita que a rentabilidade pode ficar pela metade do registrado em 2021/22.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou sanções contra os russos e seu aliado Belarus dois dos principais fornecedores globais de fertilizantes, elevou as despesas com adubos, insumo que o Brasil importa cerca de 85% do que consome.
Os produtos continuam chegando ao Brasil, com agricultores em uma corrida para garantir a oferta que será utilizada no plantio de 2022/23, mas a preços muito maiores.
Dados do governo federal mostram que, nas três primeiras semanas deste mês, a média de preços para os fertilizantes químicos adquiridos no período foi de 772,4 dólares por tonelada, contra 324 dólares em junho do ano passado.
Soma-se a isso o gargalo logístico intensificado pelas restrições contra a Covid-19 na China que onera as despesas do setor agrícola e torna mais morosa a chegada de defensivos no Brasil.
Neste contexto, a AgResource Brasil, subsidiária da empresa norte-americana AgResource Company, disse que ainda está apreensiva em suas projeções para a safra brasileira, mas se sua estimativa de 144,82 milhões de toneladas se confirmar, o Brasil sozinho responderá por 72,41% da estimativa que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) vê para a produção sul-americana, de 200 milhões de toneladas.
“E (isso) será vital para o Brasil se consolidar ainda mais nas exportações de soja na próxima safra”, disse a consultoria.
O analista de Grãos e Proteína Animal da hEDGEpoint Global Markets, Pedro Schicchi, ressaltou, no entanto, que um contraponto para um crescimento forte de área no Brasil atualmente é a safra grande de soja nos EUA, esperada para o segundo semestre e que já pressiona as cotações futuras, após setembro.
“No entanto, o real desvalorizado compensa parte deste efeito, dando suporte para preços domésticos, mesmo que em dólares eles já não estejam tão altos após a colheita americana.”