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Mercados

Cai competitividade do frango brasileiro

Francisco Turra: produtividade tem de subir para compensar alta dos custos.

Cai competitividade do frango brasileiro

Líder absoluto nas exportações de carne de frango, o Brasil viu sua indústria avícola perder competitividade na última década. Apesar da farta disponibilidade de grãos no país, condição vital para a criação de aves, indústrias do porte de BRF e Seara sofreram com a alta dos custos de mão de obra e menor produtividade do trabalho, num movimento similar ao que ocorreu com a indústria nacional como um todo.

Essas são as principais conclusões de um estudo da consultoria Agro.Icone encomendado pela União Brasileira de Avicultura (Ubabef). Conforme o estudo, a indústria exportadora de carne de frango “perdeu grande parte de sua competitividade nos anos recentes sobretudo pelo mercado de trabalho”. Entre 2006 e 2013, o custo da mão de obra em dólar no Brasil cresceu 116%, de acordo com o estudo.

Enquanto isso, o Brasil perdeu, ainda que marginalmente, participação nas exportações de carne de frango. Entre 2005 e 2008, os embarques do país correspondiam a 39% do comércio global, índice que caiu para 37% entre 2009 e 2012. Os percentuais se referem aos volumes comercializados e não à receita.

O Brasil não foi, porém, o único a perder mercado no período. Na mesma base de comparação, os Estados Unidos, segundo maior exportador global da proteína, viram sua participação recuar de 37% para 34%.

A participação perdida por Brasil e Estados Unidos acabou pulverizada, sem um grande “vencedor”. Conforme o Departamento de Agricultura americano (USDA), os países que, individualmente, têm uma fatia inferior a 4% do mercado respondiam, juntos, por 7% do comércio global de carne de frango entre 2005 e 2008. Essa taxa subiu para 11% entre 2009 e 2012.

Pelos cálculos do estudo da Agro.Icone, a perda de participação do Brasil fez com que a indústria brasileira de carne de frango deixasse de ganhar US$ 1,65 bilhão com as exportações do produto. Além disso, o estudo também estima que o setor teria gerado 94 mil empregos diretos e indiretos caso ainda tivesse 37% do comércio global.

Na opinião do presidente da Ubabef, Francisco Turra, a elevação dos custos de mão de obra – fator apontado com o principal responsável pela perda de competitividade da indústria avícola – não é um problema em si. “Não há problema de crescer o custo de mão de obra, mas a produtividade tem que acompanhar”, afirma ele, elogiando a desoneração da folha de pagamentos do setor, que teve início neste ano.

O estudo mostra, no entanto, que a produtividade do trabalho não acompanhou o aumento dos custos de mão de obra. Entre 2006 e 2011, a produção de carne por trabalhador cresceu 13%, enquanto os salários médios avançaram 19% em termos reais no mesmo período.

Uma das alternativas para aumentar a produtividade da indústria avícola é intensificar o uso de máquinas, afirma o gerente de relações com o mercado da Ubabef, Adriano Zerbini. Segundo ele, ampliar a automação é essencial, uma vez que a indústria avícola é bastante intensiva em mão de obra. Além disso, com índices de desemprego em patamares baixos, a indústria tem dificuldades para contratar funcionários.

Segundo Zerbini, o maior uso de máquinas se reflete diretamente na produtividade do trabalho. Ele não quis detalhar os números do estudo da Agro.Icone, mas afirmou que o valor adicionado por trabalhador da indústria avícola brasileira corresponde a apenas um terço do verificado na indústria americana e metade do registrado na indústria alemã. EUA e Alemanha utilizam a automação de maneira mais intensiva que o Brasil, conforme Zerbini.

Além de ampliar o uso de máquinas, o estudo da Agro.Icone sugere outras mudanças para ampliar a competitividade do setor. Entre elas está a realização de concursos públicos para ampliar o efetivo de funcionários dedicados ao Sistema de Inspeção Federal (SIF). De acordo com o estudo, a indústria banca R$ 232 milhões por ano com funcionários dedicados à inspeção. Com mais concursos públicos, a indústria repassaria esse custo para o Estado.

Para além dos custos industriais, o Ubabef também defende investimentos em logística, que ajudariam a ampliar a competitividade da indústria nacional. Conforme a Agro.Icone, as empresas brasileiras pagam, em média, US$ 46,80 por tonelada de carne exportada no trajeto entre a unidade de produção e o porto. Já na Tailândia, que vem ganhando espaço nas exportações de carne de frango e hoje representa 4% do comércio global, esse custo é de US$ 33 por tonelada exportada.

Os custos portuários também são mais altos no Brasil, aponta o estudo. A indústria brasileira gasta, em média, US$ 22,90 por tonelada exportado, enquanto os EUA gastam a metade disso (cerca de US$ 11 por tonelada exportada). Tailândia, com gastos de US$ 12,70 por tonelada exportada, e França, com US$ 19,20 por tonelada exportada, também têm custos portuários inferiores.