Pressionado pelo excesso de oferta e pela retração da demanda interna, o mercado de carnes iniciou o ano em baixa. A tendência deve se manter ao longo de 2012, com expectativa de queda nos preços da carne bovina e recuperação ainda incerta nas cotações de suínos. A exceção fica por conta do frango que, apesar da forte retração no período, já iniciou uma retomada.
Depois de atingir R$ 106,6 por arroba, no Estado São Paulo, em 22 de novembro, o indicador Cepea/Esalq para o boi gordo recuou 9,8% e encerrou o mês de fevereiro a R$ 96,19. “Tudo indica que teremos um ano de preços menos firmes”, afirma Hyberville D’Athayde Neto, analista da Scot Consultoria. Segundo ele, o consumo de carne bovina do início do ano “não está colaborando”.
O principal fator baixista, contudo, não diz respeito à demanda, mas à oferta de gado, que deve crescer graças à inversão do ciclo da pecuária, explica o analista. “Estamos em um período de maior abate de fêmeas”, diz ele.
Em 2007, lembra D’Athayde Neto, os pecuaristas iniciaram o ciclo de retenção de matrizes, com redução da participação de fêmeas no total abatido – de 40%, naquele ano, para cerca de 35% em 2010, segundo dados da Scot. “Ainda não consolidamos com os dados oficiais do ano passado, mas todos os indicadores apontam para essa virada”, pondera, citando os três primeiros trimestres de 2011, que apresentaram maior número de matrizes abatidas. De acordo com ele, os produtores estão menos propensos a manter as vacas no pasto. “A rentabilidade da cria tem sido um fator de pressão, com custos de criação cada vez maiores”, afirma o analista.
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Os preços mais baixos, por sua vez, devem estimular o consumo interno de carne bovina a partir do segundo semestre, acrescenta o analista, que prevê alta de 3,5% no consumo per capita. Ainda assim, os preços não devem reagir. “Em termos de preço, esse crescimento é relativo, porque temos uma oferta maior”, explica.
Além do desempenho interno, a conjuntura externa, com a crise dos principais mercados importadores, não favorece uma elevação dos preços. “A demanda internacional, que absorve em torno de 15% e 20% da carne bovina, tem um cenário obscuro”, ressalta D’Athayde Neto.
A carne suína também sofreu com a demanda superestimada para o período de festas do fim do ano passado. “Entre outubro e novembro, os produtores colocaram mais matrizes para produção acreditando que o mercado iria aquecer, mas não ocorreu da maneira esperada”, afirmou o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos, Losivanio de Lorenzi.
Reflexo disso, o indicador Cepea/Esalq para o suíno vivo em São Paulo desabou 16% em janeiro, a R$ 2,58 o quilo. Em fevereiro, os preços recuperarem-se apenas 3%, atingindo R$ 2,65 o quilo.
“Ainda estamos trabalhando com uma margem forte de prejuízo”, afirma Lorenzi, que aconselhou os suinocultores a não ampliarem o tamanho de seus plantéis. Com isso, diz ele, o setor retomará sua lucratividade. O mês de março traz esperanças para o dirigente, com as exportações de carne suína ganhando fôlego. “Acredito na melhora dos preços pagos ao produtor nos próximos meses”, diz.
No caso do frango, a recuperação das cotações é mais promissora. Ainda que o indicador Cepea/Esalq para o frango vivo, em São Paulo, tenha recuado 26% em janeiro, a R$ 1,44 o quilo (também sob influência do estoque elevado após as festas de fim de ano), a tendência é de recuperação, conforme Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
Já no mês passado, o frango vivo subiu 15%, a R$ 1,66 o quilo. “A queda foi transitória”, afirma Turra. Segundo ele, com os custos de produção mais elevados e os estoques voltando aos patamares normais, a recuperação deve se confirmar. Para ele, o cenário de preços deste ano será mais previsível, com estabilidade tanto no consumo quanto na produção. “Não há expectativa de explosão de preços”, acrescentou.