A logística do escoamento deixa a desejar para indústria avícola no Paraná. Entre os gargalos enfrentados pelo setor estão a dependência do sistema rodoviário, a rede de armazenagem deficitária e a capacidade de embarque limitada dos portos estaduais. Foi o que constatou a Expedição Avicultura depois de rodar quase cinco mil quilômetros pelos principais polos de produção do estado. Segundo a analista de mercado da Expedição, Luana Gomes, estes são pontos que enfraquecem a competitividade da atividade.
Um dos maiores problemas são os portos paranaenses. Paranaguá, o maior do estado, perde em competitividade para o Porto de Itajaí, em Santa Catarina, que tem capacidade de embarque de contêineres 50% maior, mais do dobro do espaço para armazenagem em câmaras frias e capacidade estática de estocagem reefer (contêineres refrigerados) três vezes superior. Paranaguá exporta apenas 27% de carne de frango produzidas no Paraná.
“Nossa maior fragilidade é a armazenagem”, considera o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins. De acordo com estimativas do setor, o Paraná tem à disposição espaço em câmaras frias suficiente para estocar aproximadamente 70 mil toneladas. Em Santa Catarina, apenas dentro do complexo portuário de Itajaí é possível armazenar 160 mil toneladas.
Mãos na massa
Para manter a liderança nas exportações e ampliar a participação no mercado externo, as próprias indústrias paranaenses já estão reagindo para superar fragilidade da logística com suas próprias armas.
Um exemplo é o Centro de Armazenagem e Distribuição da Unifrango – holding que congrega 17 empresas avícolas– em Apucarana, no norte do Paraná. O centro terá capacidade para armazenar 25 mil toneladas de produtos congelados.
Em Cascavel, a Cotriguaçu, cooperativa que reúnes as empresas Coopavel, C.Vale, Lar e Copacol, já se prepara para ter seu próprio complexo logístico. Com um investimento de R$ 50 milhões e obras que devem durar 18 meses, a obra vai permitir que a cooperativa tenha um pátio de estacionamento e um desvio ferroviário no terminal da Ferroeste.
Segundo o diretor-presidente do Conselho de Administração da Cotriguaçu, Dilvo Grolli, o novo complexo permitirá “inverter a logística de transporte” do frango, predominantemente rodoviária, para o modal ferroviário, aproximadamente 30% mais econômico. A estimativa é reduzir os custos de U$ 1,7 mil para U$ 1,2 mil por contêiner de 25 toneladas.
Melhorias a vista
O Terminal de Contêineres do Paraná (TCP), consórcio que gerencia o terminal de contêineres do Porto de Paranaguá, pretende duplicar a linha férrea interligada à malha da ALL/Brado e passar a operar com dois ramais internos. A obra faz parte de um plano de investimentos de R$ 250 milhões que promete elevar de 1,2 milhão para 1,5 milhão de TEUs/ano (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) a capacidade operacional de embarque do terminal até 2013. “Com isso, esperamos que a participação do modal ferroviário seja ampliada para 15% nos próximos dois anos”, releva o diretor-superintendente comercial do TCP, Juarez Moraes e Silva.
As empresas privadas também estão focadas em ampliação. Recentemente, duas das três companhias que atuam fora do cais de Paranaguá, ampliaram sua capacidade de armazenagem na região do entorno do porto. A CAP Logística frigorificada aumentou de 5 mil para 7,5 mil toneladas a sua capacidade de estocagem. Os armazéns frigorificados da Martini Meat, que antes comportavam 26,5 mil toneladas, agora podem abrigar até 30 mil toneladas de produtos congelados.
Mercado interno
Um das vantagens das indústrias paranaenses é a facilidade de acesso ao mercado doméstico do Sul e Sudeste. Mesmo as indústrias habilitadas à exportação reservam em média 65% da sua produção para o mercado interno.
A localização estratégica da Big Frango, de Rolândia, que fica a apenas 200 quilômetros da fronteira paulista, permite que a indústria comercialize em São Paulo metade da produção que é direcionada ao consumidor doméstico.
A GTFoods, de Maringá, também tem em São Paulo o seu principal consumidor. A procura é tanta que a produção de 390 mil aves/dia ficou pequena para atender a todo esse mercado. Nas épocas de maior demanda, a empresa chega a comprar frango abatido de outras indústrias para suprir a demanda do varejo.
Apesar de promissores, os mercados do Norte e Nordeste ainda não são grandes destinos do frango paranaense por causa dos custos de transporte. Segundo o gerente industrial da C.Vale, de Palotina, Reni Eduardo Girardi, 80% das vendas à Manaus ocorrem na modalidade FOB, em que os custos de transporte até o destino final ficam a cargo do comprador. “Uma das metas da Unifrango é ter uma navio de cabotagem exclusivo, disponível diuturnamente para atender esse mercado”, afirma Martins, que também é presidente da Unifrango.
Sobre a Expedição Avicultura
A Expedição Avicultura é um projeto do Agronegócio Gazeta do Povo, que detém o know-how e a capilaridade da Expedição Safra, realizada da há seis temporadas, com oferecimento do Grupo Unifrango e apoio técnico do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindivipar).
A equipe visitará os principais polos avícolas do Paraná, o maior produtor e exportador de carne de frango do país. O levantamento técnico-jornalístico irá mapear a atividade e debater todas as variáveis que influenciam o setor, desde a produção, passando pelo abate até a exportação. Além de números do segmento avícola, o projeto vai discutir tecnologia, manejo, genética e competitividade e traçar um diagnóstico das tendências para o setor nos próximos 10 anos.
A cobertura completa da Expedição Avicultura pode ser acompanhada pelo site www.expedicaoavicultura.com.br. Na página são publicados todos os textos produzidos pela equipe técnico-jornalística que está em campo, além da cobertura fotográfica, slides show e vídeos.