As chuvas, que provocaram prejuízos na safra de soja em Mato Grosso do Sul, devem respingar fortes nos preços de frango e carne de porco. O reflexo, que deve ser sentido no segundo semestre deste ano, resultará da possível redução da oferta de milho para ração de aves e suínos – a safra do milho sofre, de imediato, os efeitos do mau momento da produção de soja. A cadeia de prejuízos também deverá atingir a próxima safra da oleaginosa, em razão da menor oferta e aumento dos valores das sementes.
“Os preços vão ter um acréscimo alto”, prevê a assessora econômica da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Adriana Mascarenhas, acerca das cadeias produtivas da carne suína e de frango. Ela explica que cerca de 80% do milho produzido no Estado são comprados pelas indústrias para composição da ração dos suínos e de aves. “Essa alta não fica só para a indústria. Ela repassa. E, neste caso, o reflexo nos preços ao consumidor final é imediato”, completa.
A quebra da safra do milho ainda não pode ser mensurada, mas o prognóstico não é animador. O prejuízo pode ser relativamente maior que o da soja, acredita a economista da Famasul. Ela explica que o milho, plantado com atraso, poderá ser arrasado pela geada do meio do ano.
Os ciclos agrícolas obedecem a períodos determinados pela natureza. O milho safrinha deve ser plantado em meados de fevereiro para ser colhido em agosto sem grandes interferências de intempéries. O problema com a safra da soja, no entanto, impediu a ocorrência do ciclo correto do milho. Conforme o agrônomo Joaquim Marcondes, da Agro Dinâmica, em Maracaju, a demora para o início do plantio do milho deve empurrar a colheita para o fim de setembro e início de outubro. “Em condições ideais de luz e calor, o milho cresce em quatro meses. Mas, no inverno, com dias mais curtos, esse período pode subir para cinco meses”, explica.
Indústria – O cenário esboçado é de milho em menores quantidade e qualidade, o que resultará em preços elevados. Uma das saídas para evitar essa equação é o comportamento da indústria. “Elas são muito ágeis”, afirma Rubens Flávio Mello Correa, secretário executivo da Câmara Setorial da Avicultura.
Em primeiro momento, no entanto, a indústria sinaliza que terá, mesmo, de comprar milho por valores maiores. “Nós vamos pagar mais caro pelo milho e repassar o preço. A indústria não tem como absorver”, avisou Jaime Garbin, diretor da Frango Belo.
Ele salienta que 63% da ração para os frangos são compostos de milho. “Não tem outro produto que substitua o milho”, completou.
Segundo ele, há a possibilidade, ainda remota, de aquisição do milho do Paraguai, que é mais barato por razão cambial. “O milho paraguaio é comprado em dólar, por isso sai mais em conta”, diz.