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Cooperativas

Cooperativas no desenvolvimento de SC

Cooperativismo tornou-se instrumento essencial de desenvolvimento, integração e inclusão no cenário sócio-econômico catarinense.

Dinamizando a economia do Estado e colaborando com as políticas públicas, o cooperativismo tornou-se instrumento essencial de desenvolvimento, integração e inclusão no cenário sócio-econômico catarinense. Essa condição foi comemorada pela Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc) nas festividades do Dia Internacional do Cooperativismo comemorado dia 03 de Julho.

O médico-veterinário Marcos Antônio Zordan, presidente da Ocesc e vice-presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), quer estimular a intercooperação, intensificar as ações de formação profissional e aperfeiçoar o programa de autogestão das cooperativas catarinenses.

Zordan presidiu a Cooperitaipu (Pinhalzinho) e é diretor de agropecuária da Coopercentral Aurora (Chapecó), tem 32 anos de vivência no cooperativismo. Aos 56 anos, é casado com Dalva Maria Zordan com quem tem três filhos (Marcos Jr, Matheus e Thaís). Gaúcho de Lagoa Vermelha, vive em Santa Catarina há 35 anos. Presidiu a Federação das Cooperativas Agropecuárias de SC (Fecoagro) e participou da administração da Cooper Leite, da Creditaipu, da Agromilk, da Ocesc e da Creditaipu, entre outras entidades cooperativistas.Nessa entrevista, Zordan analisa o atual estágio do cooperativismo barriga-verde:

Qual é a importância social e econômica do cooperativismo em SC?

Marcos Antônio Zordan – Nos municípios onde as cooperativas atuam, o índice de desenvolvimento humano (IDH) é mais elevado. As cooperativas catarinenses reúnem 1 milhão de famílias associadas, o que representa a metade da população estadual vinculado ao cooperativismo. Em 2009, as 256 sociedades cooperativas faturam R$ 11,3 bilhões de reais. O tamanho do setor cooperativista de Santa Catarina é o ideal, se considerarmos as características do Estado e um processo de crescimento ordenado, sólido e estruturado na observância dos princípios que o regem há mais de um século.

Qual será o futuro do cooperativismo brasileiro?

Marcos Antônio Zordan – As variáveis que determinam o cenário político e econômico deste novo século tornam imprevisível o panorama do futuro próximo, mas as tendências desses tempos de globalização são inequívocas: competição acirrada e busca permanente da eficiência.

Como as cooperativas de SC se preparam para enfrentar os desafios presentes e futuros de um mercado globalizado?

Marcos Antônio Zordan – Fortes investimentos na qualificação de seus quadros profissionais e de direção, liberação gradativa de amarras legais que impedem o seu desenvolvimento, especialmente as de crédito e o despertar do agronegócio em nosso país são decisivos para se atingir a performance desejada. O cooperativismo barriga-verde atua com seriedade de gestão, eficiência gerencial e sintonia com os desafios dos novos tempos. A seriedade pode ser avaliada pelo expurgo de cooperativas que deixaram de fazer parte do sistema porque, de alguma forma, infringiram norma legal essencial (lei 5.764/71) do cooperativismo. Nos últimos cinco anos foram expurgadas 266 organizações que deixaram de ser reconhecidas como cooperativas e que, ou foram extintas, ou continuaram funcionando como empresas comerciais.

A preparação dos recursos humanos é a principal estratégia de qualificação das cooperativas de SC?

Marcos Antônio Zordan- Sim, porque a eficiência gerencial vem sendo perseguida tenazmente através de arrojados programas de treinamento e capacitação de técnicos e dirigentes, financiados pelas próprias cooperativas, diretamente ou via Sescoop, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo, através do qual investimos 6 milhões de reais ao ano. A sintonia com os novos tempos exige uma permanente leitura das mudanças e transformações no Brasil e no mundo, conhecimento e contato com outras realidades culturais, seminários e viagens de estudo.

As cooperativas catarinenses voltarão a crescer a uma taxa de 20% ao ano, como acontecia no período pré-crise?

Marcos Antônio Zordan-  Acredito que sim, pois estamos retomando as condições que existiam antes da crise de 2008/2009. Nossa política é de crescer gradualmente e com segurança. Os grandes desafios contemporâneos do cooperativismo catarinense são, justamente, crescer com sustentabilidade para evitar surto de forte expansão em determinado período, seguido de profunda crise financeira, em outro. Precisamos crescer sem desequilibrar as bases estruturais de nossas cooperativas. Períodos de expansão muito acelerada são, normalmente, seguidos de estagnação. É importante crescer, mas com equilíbrio e sustentabilidade.

Quais os principais ramos do cooperativismo do Estado?

Marcos Antônio Zordan – O setor agropecuário responde por aproximadamente 70% do peso econômico das cooperativas no Estado de Santa Catarina. Tem importância significativa também as cooperativas da área de saúde, crédito, infra-estrutura e consumo as quais, além da considerável contribuição econômica, tem um importante papel na distribuição de renda e apoio social.

Como o setor cooperativista catarinense se diferencia de outros estados?

Marcos Antônio Zordan-  As características da classe média urbana e de minifúndios do Estado de Santa Catarina levam os consumidores e produtores rurais a maior necessidade de união objetivando a otimização de sua renda. Esse aspecto, aliado aos inúmeros serviços prestados pelas cooperativas a seus associados, resultam numa maior integração. Em outro angulo, há intenso direcionamento das atividades das cooperativas no sentido de agregar valor aos produtos primários, o que proporciona a melhoria da remuneração dos associados. Finalmente o forte empenho dos últimos anos na linha de reestruturações, racionalização de custos e elevação de escala tem permitido a obtenção de resultados positivos. Cresce ano a ano o número de cooperativas que na Assembléia Geral de prestação de contas tem retornado sobras em dinheiro para seus associados.

Quais as principais dificuldades enfrentadas, principalmente na questão de recursos, juros, endividamento etc?

Marcos Antônio Zordan- Hoje as principais dificuldades situam-se nas áreas tributárias e contribuições oficiais paralelas. O setor vem discutindo desde 1999 algumas questões de interpretação equivocada, ao nosso ver, por parte de órgãos federais como, INSS, Ministério do Trabalho e Receita Federal. As indefinições restringem uma maior desenvoltura que as cooperativas poderiam ter nos aspectos social e de distribuição de renda. As questões relativas a endividamento e encargos financeiros estão equilibradas e adequadas às circunstâncias.

Há 1 milhão de famílias associadas às cooperativas, mas esse número pode, ainda, crescer?

Marcos Antônio Zordan- Sim, porque há um grande percentual de potenciais cooperativistas que ainda desconhecem ou não tiveram acesso aos benefícios das cooperativas. Por isso, a Ocesc e o Sescoop/SC promovem quinzenalmente eventos gratuitos em que são disponibilizadas todas as informações a respeito de cooperativas, desde os direitos e deveres, até aspectos legais de constituição das sociedades, os benefícios e dificuldades.

Como o Sr. pretende estimular a intercooperação em Santa Catarina?

Marcos Antônio Zordan- O que vai continuar dando certo é a união de duas ou mais cooperativas participando de um investimento independente. Temos como exemplo a Maue, na geração de energia e a indústria de fertilizantes de São Francisco, no ramo agropecuário. Essa é a melhor maneira de estimular a intercooperação. Outra questão é o incentivo da comercialização dos produtos ou serviços entre as cooperativas. Infelizmente em Santa Catarina não há essa cultura. Existe até ciúme entre alguns dirigentes que acabam dificultando as relações comerciais. Então nossa intenção é atuar como facilitadores nessas transações.

Quais as principais mudanças e transformações que a Ocesc espera da nova lei geral do cooperativismo, em tramitação no Congresso?

Marcos Antônio Zordan- A lei precisa reconhecer o ato cooperativo em todos os ramos. Ato cooperativo é a relação econômica entre o associado e sua cooperativa e deve ser diferenciado de uma comercialização normal entre empresas, porque o cooperativismo presta um grande serviço social para o país, por isso tem custos maiores.

A educação dos cooperados e dos funcionários continua prioridade da Ocesc?

Marcos Antônio Zordan- O maior desafio das cooperativas é com a educação. Essa preocupação está latente no quinto princípio do cooperativismo mundial – educação, formação e informação – e revela-se a cada dia mais atual e pertinente. Educação, formação e informação, quando presentes e praticadas, constituem-se em escudo para crises. Esse trinômio proporciona a qualificação técnica e gerencial das cooperativas, elevando a qualidade da gestão, e fortalece as convicções doutrinárias dos cooperados, fidelizando seu relacionamento com a cooperativa. O processo educativo também atinge a comunidade envolvente como um esforço de amadurecimento.