Redação (30/03/2009)- Com forte potencial para a expansão da cultura canavieira, Moçambique tem atraído o interesse de grupos brasileiros em investir em etanol em seu território. As intenções têm esbarrado na precária infraestrutura logística daquele país. Mas o governo moçambicano acredita nas vantagens naturais, de comércio e localização estratégica para atrair grupos investidores e poder desenvolver essa indústria.
O ministro de Energia, Salvador Namburete, afirmou que no momento há três projetos traçados e aprovados pelo governo, dentro de sua política de biocombustíveis, para a produção de etanol. A principal fonte é a cana-de-açúcar, mas ele mencionou ainda a mapira doce, ou sorgo. "Há interesse de grupos brasileiros", afirmou, destacando que integrantes da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), entidade que representa as usinas no Brasil visitaram Moçambique recentemente. A Unica tem promovido o intercâmbio de conhecimento técnico no país.
Os projetos estão distribuídos em três regiões. Para o sul está prevista unidade para 120 milhões de litros ao ano. Na região central, em Manica, a usina de etanol está desenhada para produzir 100 milhões de litros. O maior dos projetos, para 300 milhões de litros anuais, fica no norte. Segundo o ministro, um grupo mostrou interesse justamente por este último projeto. Esses projetos têm como alvo o mercado externo, saindo de portos na costa do Oceano Índico para a Europa e Ásia, principalmente.
Investimentos sucroalcooleiros em países africanos são considerados estratégicos, uma vez que a produção de açúcar e etanol do continente pode entrar na União Europeia sem tarifa de importação – por serem ex-colônias, esses países são beneficiados pelo acordo ACP (Ásia, Caribe e Pacífico). Para o etanol, a demanda é crescente também nos próprios países africanos, que estão dispostos a utilizar o álcool combustível em suas frotas.
A Açúcar Guarani, controlada pela multinacional francesa Tereos, informou que tem interesse em ter uma planta de etanol no país africano. No entanto, a decisão de investimento depende das condições de mercado e do mandato sobre o uso do etanol combustível naquele país.
O grupo já possui uma usina de açúcar em Marromeu, que fica na região central de Moçambique. "Se decidirmos investir naquele país, vamos construir uma destilaria anexa à usina nesta região", informou a empresa. Essa usina tem capacidade para 600 mil toneladas ao ano e plano de expansão para 1 milhão de toneladas. Já exporta para a União Europeia, dentro de acordo EBA (tudo menos armas, na sigla em inglês) dessa região da Europa.
Eduardo Leão de Souza, diretor-executivo da Unica, participou diretamente do programa de implementação do etanol que está sendo elaborado pelo governo moçambicano. Antes da Unica, Leão atuou como economista-chefe do Banco Mundial nos Estados Unidos. No banco, participou ativamente do desenvolvimento do programa para etanol em Moçambique.
"O potencial de plantio agrícola daquele país é de 30 milhões de hectares. Mais de 90% dos produtores cultivam agricultura de subsistência", afirmou. De acordo com Leão, por ser um país de extenso litoral, com três importantes portos, Moçambique tem competitividade para exportar. "Além de poder exportar sem tarifas para União Europeia, o país também está isento de tarifas para o etanol nos EUA". O Brasil paga US$ 0,54 de tarifa para o álcool entrar no mercado americano.
A Unica já recebeu missões do governo moçambicano com interessados em investir em etanol. "Não cabe à Unica discutir esse tipo de cooperação, mas sim ao governo brasileiro, que tem todo o interesse em promover a expansão do etanol", afirmou Leão.
Conforme o ministro de Energia de Moçambique, foi firmado no ano passado um memorando de entendimento com o Brasil para criação de capacitação técnica, envolvendo a Única e os ministérios de Agricultura e Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) brasileiros. "Já temos muitos plantios de cana no país. Agora, estamos na fase de atrair os investidores para os projetos industriais", disse.
Além de Moçambique, outro país africano está fazendo suas apostas em etanol. Em Angola, a Odebrecht, controlador da ETH Bionergia, braço de açúcar e álcool do grupo, já anunciou a construção de uma destilaria. As variedades de cana utilizadas pela empresa foram desenvolvidas por pesquisadores brasileiros e adaptadas para o clima e solo angolano. O grupo informou que não está nos planos da companhia, no curto prazo, fazer investimentos em Moçambique.
A política de biocombustíveis de Moçambique envolve também projetos de produção de biodiesel, com vistas a uso na geração de energia em sistemas isolados do país, onde a energia não chega. O governo aprovou na semana passada o programa para estimular essa produção com utilização da jatrofa (mamona, no Brasil) e o coco, do qual o país é um grande produtor. A ideia é estimular e dar condições técnicas e financeiras para pequenos agricultores.