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Mercado Externo

Soja chinesa prejudicada

<p>Frio faz safra da China cair 20%. Números animam produtores brasileiros, que preveem demanda elevada da oleaginosa.</p>

Frio intenso nas lavouras chinesas, possibilidade de retaliação aos Estados Unidos e escassez precoce no mercado interno são os fatores que deverão manter a demanda pela soja brasileira elevada até o início do próximo ciclo no País. O principal motivador para a manutenção das exportações do Brasil em patamares elevados será a possível quebra de safra da China, estimada em 20%. A produção de soja em Heilongjiang, maior área produtora do grão na China, deve cair cerca de 3 milhões de toneladas este ano, devido parcialmente a um frio intenso antecipado, segundo Tian Renli, presidente e diretor-geral da Jiusan Oils and Grains, principal processadora de soja da região. “O problema é o tempo nas fases anteriores do ano que atrasou a safra. E agora há uma frente fria antecipada. Portanto, com uma área reduzida, nós esperamos que a produção caia 3 milhões de toneladas”, disse.

A previsão de Tians para a colheita de Heilongjiang sugere que a safra de soja em toda a China pode ser menor que o previsto. O Centro Nacional de Grãos e Óleos da China estimou uma colheita de 14,5 milhões de toneladas, ante 15,5 milhões em 2008.

O Brasil, que neste ano se tornou a principal fonte da oleaginosa para o mercado chinês, pode conseguir manter por mais tempo os preços da soja em valores remuneradores, animando os produtores para o plantio que começa no próximo mês.

De janeiro a agosto o País aumentou suas vendas de soja para a China de 10,5 milhões de toneladas para 14,9 milhões de toneladas, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em receita, o incremento também foi significativo: 25,5%.

Até então o aumento na procura do grão brasileiro estava atrelado ao recorde de importações pela China por conta de uma campanha de armazenamento do governo que ofereceu a produtores um preço fixo pelos grãos produzidos por eles, abrindo uma janela para importações em meio à queda dos preços do mercado internacional. No médio prazo, incluindo a próxima safra, o Brasil pode continuar se beneficiando da política chinesa. Segundo Renli, os custos com plantio devem ser maiores no próximo ano.

Zhang Lichen, assistente gerente-geral da Jiusan, disse que o governo de Heilongjiang planeja apoiar produtores pedindo a eles para reduzirem a área para soja, em favor do milho, que rendeu resultados melhores no último ano.

“O governo da região vai pedir a produtores locais para produzirem milho na maior área possível. Isso é parte do grande plano para aumentar a produção de grãos”, disse Zhang. A área destinada ao plantio de soja no próximo ano vai diminuir, disse ele.

Nos EUA, mesmo com as novas previsões, que afastam a hipótese de geadas, o clima também poderá continuar colaborando com o mercado. De acordo com a Granoeste Corretora de Cereais e Sementes, no Sul do País, onde a colheita de soja está em andamento, o excesso de umidade tem dificultado os trabalhos de campo, mantendo reduzido o volume de oferta. “Além disto, a demanda segue firme, com relatos de novas e expressivas aquisições por parte da China”, avaliam os corretores.

Ainda segundo a corretora, no mercado interno os negócios com soja seguem registrando preços acima da paridade internacional. Apesar das oscilações na bolsa norte-americana, com momentos positivos, as indicações das indústrias foram cedendo ao longo da semana. “Há, no entanto, pouca disponibilidade e o produtor tem se mantido retraído à espera de preços melhores, sobretudo porque, ao longo do ano, as exportações foram aceleradas, fato que provocou certa escassez interna mais precoce que em anos anteriores”, ressaltam.

Retaliação aos EUA

O ministro de Agricultura da China, Sun Zhengcai, viajou ontem para os EUA a de fim de discutir assuntos comerciais. Antes de embarcar, ele concedeu uma entrevista em Pequim na qual enviou sinais contraditórios a respeito de uma eventual retaliação contra as importações de soja norte-americana após os EUA terem taxado as compras de pneus chineses. O ministro afirmou que vai aos EUA para “fortalecer a cooperação” no comércio agrícola entre os dois países e assinar novos acordos, mas não quis entrar em detalhes. Mas quando questionado sobre se a China tomaria alguma medida contra a soja dos EUA, disse: “Não tenho resposta para isso agora”.