Redação (12/11/2008)- Os reflexos da escassez de recursos e os menores preços pagos pelo milho já devem ser notados na safra de verão pela indústria de sementes. Até meados deste ano, o setor esperava superar a safra do ano passado em volume de vendas, mas o agravamento do cenário com a restrição ao crédito e a maior oferta da commodity no mercado interno fez o setor rever as metas e projetar uma redução de 5% até o final do plantio. Dados da Associação Paulista dos Produtores de Sementes (Apps) mostram que, até setembro deste ano, cerca de 4,17 milhões de sacos de sementes foram vendidos, número 2,2% inferior ao período anterior. No ano passado, em torno de 6,75 milhões de sacos de semente de milho foram comercializadas na safra de verão. A expectativa é que esses produtores migrem para a soja, que oferece menores custos com sementes e adubação das lavouras, além de oferecer boa liquidez no momento da venda.
A consultoria Céleres estima redução um pouco mais intensa na demanda de sementes do milho (6%), o que confere uma queda de 400 mil hectares na área total da primeira safra, recuando de 9,6 milhões de hectares para 9,2 milhões de hectares (-4%). "O segundo semestre deve terminar com estoques elevados porque a safrinha foi maior que o previsto. Com isso, a soja oferece renda mais interessante ao produtor com menores custos de produção", avalia Leonardo Sologuren, diretor da consultoria.
O cenário fica ainda mais incerto para a safra de inverno do milho (conhecida como safrinha), segundo Cássio Cruz Camargo, secretário-executivo da Apps. Ele diz que ainda não é possível mensurar a redução de área ou demanda, mas o nível tecnológico empregado com certeza será menor. "Esperávamos um cenário positivo para o verão e a safrinha. Mas a crise acabou mu-dando o panorama", observa. Elton Ramer, presidente da Associação dos Produtores de Semente do Mato Grosso (Aprosmat), revela que os produtores têm dificuldades para acessar o crédito, o que prejudica o andamento da colheita. "Na safra de verão já esperamos redução na demanda, pois os produtore migraram para soja. A maior incógnita fica para o inverno. Se ocorrer uma redução na área e na demanda de semente de milho acima de 60% não será novidade alguma".
Iwao Miyamoto, presidente da Associação Brasileira de Mudas e Sementes (Abrasem), confirma a maior demanda por sementes de soja. Segundo disse, as vendas devem crescer 10% neste ano. Em 2007, foram comercializadas 15 milhões de sacas de 40 quilos. "A crise que abalou o milho não deve prejudicar na mesma intensidade a soja", explica. Ele lembra que o custo da saca de semente da oleaginosa favorece o movimento, pois custa cerca de R$ 40, enquanto a do milho fica acima dos R$ 100.
No Rio Grande do Sul, os produtores estão cancelando as compras de sementes de milho para adquirir a de soja. Narciso Barison Neto, presidente da Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), afirma que a demanda pela soja está 10% superior à do ano passado. "A queda do milho deve ficar nessa mesma proporção". No estado, a área deve cair 200 mil hectares e ficar em 1,4 milhões de hectares, conforme previsão da associação.
O plantio de milho primeira safra no Paraná já atingiu a mais de 90% da área programada, segundo levantamento do Departamento de Economia Rural ( Deral), da Secretaria de Agricultura do estado. A primeira safra do Paraná tem área estimada em 1,303 milhão de hectares, o que é 5,3% inferior à de 1,376 milhão de hectares plantados em 2007/08. Já a produção segue estimada em 9,2 milhões de toneladas, volume 9,4% inferior à de 9,725 milhões de toneladas da última temporada, se as condições de safra forem normais. A queda é explicada pelo Deral pela necessidade de uso de intenso de fertilizantes na cultura, cujos preços aumentaram em mais de 50% em poucos meses, mas essa queda pode ser compensada na safrinha conforme a evolução dos preços o mercado. Segundo informações da Safras & Mercado, o plantio da safra 2008/09 no Centro-Sul atinge 57% do total, estimado em 5,8 milhões de hectares.
O movimento de recuo na produção pode favorecer os preços do milho no próximo ano. O grão, que baixou 52% após um auge sem precedentes, poderá tornar a registrar preços recorde no próximo ano devido à crescente demanda para seu uso em combustível, disse David Dawe, economista da Divisão de Economia Agrícola e Desenvolvimento da Organização para a Agricultora e a Alimentação das Nações Unidas (FAO). "Possivelmente veremos uma certa queda na produção", disse na entrevista em Yokohama, Japão. "Por outro lado, há um crescimento sustentável na demanda por biocombustíveis."
"É possível que os investidores, no momento preocupados com a força do dólar e a crise do mercado financeiro, voltem a se concentrar no milho no ano próximo", disse por telefone Kenji Kobayashi, analista da Kanetsu Asset Management de Tóquio.