Mercosul e União Europeia adiram a troca de ofertas destinadas a alcançar um acordo de livre comércio. Ontem, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, informava que a União Europeia havia pedido o adiamento do prazo para janeiro, os países do Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e a Venezuela – ainda tentavam fechar sua proposta para os europeus em reunião no Rio de Janeiro. Bruxelas, por sua vez, disse que está a espera do Mercosul.
Em entrevista coletiva no Palácio do Itamaraty, Figueiredo afirmou que o prazo de apresentação das propostas foi adiado da próxima semana para o fim de janeiro, a pedido dos interlocutores europeus. “O Mercosul estaria pronto para apresentar sua oferta antes do fim do ano, como combinado”, afirmou Figueiredo. Ele disse, contudo, que recebeu do Comissário de Comércio da União Europeia, Karel de Gucht, durante a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Bali, a informação de que a proposta deles não seria concluída no prazo, e pediu adiamento para o fim de janeiro.
Figueiredo não revelou a razão do adiamento da oferta europeia. Apenas ressalvou que isso não impedirá o ímpeto do Mercosul de finalizar sua oferta no prazo e comentou que “cada um sabe as dificuldades que tem”.
No Rio, a reunião entre os países-membros do Mercosul para consolidar a oferta conjunta de abertura comercial a ser apresentada à União Europeia foi marcada por avanços na oferta Argentina, mas não encerrou as negociações dentro do bloco. De acordo com um alto funcionário do Itamaraty presente na reunião, os argentinos apresentaram novas ofertas, entre elas sua lista de serviços a serem negociados com os europeus.
“A Argentina trouxe coisas novas, que eles tinham ficado devendo. Isso foi positivo”, afirmou o representante brasileiro. Segundo a fonte, a contribuição argentina de ontem foi importante, mas o país ainda precisa oferecer mais para que uma oferta comum seja satisfatória.
A indústria é o ponto mais delicado na negociação sul-americana. “A indústria é sempre o mais complexo, mas cada país tem suas dificuldades próprias e, na hora em que se cruza, baixa muito a oferta [comum]. Temos que ficar nesse esforço de trabalho pingado e ir, aos poucos, melhorando a oferta global”, afirmou a fonte.
A União Europeia, por sua vez, aguarda um movimento do Mercosul para saber até que ponto virão “boas noticias” a partir da reunião do bloco ocorrida no Rio de Janeiro. A partir daí, a troca de ofertas de liberalização poderá ser acelerada. Bruxelas desmente, em todo caso, que tenha pedido adiamento da troca de ofertas.
“A UE continua empenhada para essa negociação”, afirmou o porta-voz de comércio da UE, John Clancy. “Tanto o Mercosul como a UE estão trabalhando na finalização de suas respectivas ofertas. De acordo com nossas informações, os países do Mercosul estão trabalhando para apresentar uma única oferta consolidada para a UE. Estamos cientes dos sinais de um forte apoio político para avançar nas negociações provenientes de vários países do Mercosul”, acrescentou.
O porta-voz informou que a União Europeia “continua empenhada nessa negociação e na troca de oferta. Estamos em contato com o Mercosul e vamos acertar com eles em uma data o mais cedo possível para garantir uma troca de ofertas que irá ajudar a avançar o processo de negociação”.
Quanto à resistência da França, Irlanda e Polônia – uma das preocupações dos empresários brasileiros -, não há nenhuma surpresa, dizem fontes em Bruxelas. Os três países se preocupam especialmente com o acesso que a carne bovina do Mercosul poderá receber. As mesmas fontes notam, porém, que a Comissão Europeia, o braço executivo da UE, tem o mandato político para negociar e não precisa da unanimidade dos países para colocar oferta na mesa.
Hoje, o presidente francês François Hollande estará em Brasília, em visita oficial, durante a qual lançará com a presidente Dilma Rousseff um “fórum econômico bilateral”, que vai ser coordenado pelos setores público e privado. O objetivo é dobrar o volume de comércio para US$ 20 bilhões até 2020, alem de ampliar fortemente os investimentos. Os franceses querem se aproximar especialmente do Brasil, mas sabem que um acordo comercial é mesmo com o Mercosul e que terão de fazer concessões na área agrícola.
Fontes em Bruxelas enfatizam, por outro lado, que é preciso rapidez na negociação. Afinal, a UE já ofereceu cota para carne bovina para o Canadá. No total, o potencial de exportação canadense pode chegar a 100 mil toneladas. Na negociação UE-Estados Unidos, a expectativa é que os americanos abocanhem no mínimo 100 mil toneladas de cota de carne bovina. Como os europeus alegam que só tem “um bolso” para concessões, o que sobrar para o Mercosul poderá ser menor do que as 100 mil toneladas de carne bovina oferecidas na proposta europeia de 2004.
Ao fim do encontro no Rio, representantes brasileiros evitaram comentar a resistência da França, Irlanda e Polônia ao acordo birregional. Mas um membro do Itamaraty considerou a postura da França – a maior produtora agrícola da UE especialmente preocupada com o acesso sul-americano ao mercado de carnes europeu- como algo previsível. “A França deles é a nossa Argentina”, disse.
Um novo encontro entre os países do Mercosul ainda não foi marcado. Na próxima semana, os países vão trocar suas ofertas e outras informações por email.