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Economia

Ovo de Colombo - Por Aberto Figueiredo

Leia o artigo do diretor da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), sobre os investimentos sugeridos pela sociedade para manutenção do sistema público de assistência técnica e extensão rural.

Houve um tempo, há pouco mais de três décadas, que profissionais de Ciências Agrárias, recém-formados, eram convidados a prestar concurso para o Sistema Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, e funcionavam nos estados as associações estaduais, hoje conhecidas pela sigla EMATER.

Logo que os profissionais eram aprovados nos concursos de ingresso, submetiam-se a um treinamento, que, entre outras coisas, abordava a metodologia.

Aprendíamos que a adoção de alguma tecnologia por qualquer pessoa deveria ser precedida de fases, ou degraus, desde o primeiro contato com o novo fato, passando pela atenção, motivação, interesse e prática, para, só depois, haver a adoção.

Assim sendo, essa metodologia, na atualidade meio esquecida, nos orientava a exercitar um paciente trabalho de conquista individual da confiança de cada produtor.

Ensinavam-nos os mais experientes (recentemente escorraçados do sistema, como só se faz com entulho de obra), que a humildade para reconhecer os pontos positivos das práticas adotadas pelos produtores (de maneira individual), é o primeiro passo para essa conquista de confiança.

De posse de informações obtidas por meio de visitas, era possível traçar um perfil de cada produtor. Com base nas tecnologias disponíveis para a cultura ou criação, identificava-se os sistemas mais adequados a serem sugeridos, focando, preferencialmente, no aumento de renda dos produtores envolvidos, através do incremento da produtividade.

Daí em diante, esses produtores passavam a fazer parte de cadastros, e, utilizando-se de metodologia própria, eram convidados a participar de excursões, dias de campo, palestras, etc. À medida que eram apresentados às novas práticas, e que demonstravam interesse, procurávamos eliminar todas as eventuais barreiras que pudessem inibir escolhas ou decisões.

Nos relatórios (obrigatórios para todos os técnicos), iam sendo registrados os progressos tecnológicos conquistados pelos produtores assistidos. Passaram-se décadas e, nesse período, entre os crimes cometidos contra a extensão rural, certamente a imposição da tal “visão holística”, distanciando os profissionais das responsabilidades técnicas para as quais foram formados, constituiu o fato mais grave.

É tal a omissão da extensão rural em relação às necessidades dos produtores, que o espaço, até então exclusivo, vem sendo ocupado por instituições públicas e privadas que não possuem, contudo, os fundamentos teóricos necessários, principalmente em relação à metodologia adequada.

Nesse vácuo, em 1997, um pesquisador da EMBRAPA foi convidado a proferir palestra para produtores de leite. Apresentou o que havia de mais moderno em relação à atividade, adaptável ao produtor familiar ou ao empresário de maior porte. Ao terminar a apresentação, após muitos aplausos, visto que pregava a tônica da esperança e da viabilidade econômica para o negócio do leite, foi inesperadamente interpelado por um dos produtores, que levantou a seguinte questão: “Dr. Chinelato, tudo que você nos disse, nos anima a mudar de vida a partir de agora. Pergunto: Quem vai nos orientar para fazermos todas as mudanças que o senhor preconizou?”

Desse desafio, surgiu, no seio do Centro de Pesquisas da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, um programa que até então tem se caracterizado como de capacitação ou reciclagem de técnicos, em torno das principais tecnologias relacionadas à pecuária de leite. Trata-se do programa Balde Cheio.

A exemplo do saudoso PDPL da década de 70, esse programa veio para revolucionar o setor da pecuária leiteira. Convivi, por ocasião do último curso (em junho de 2010), com alguns técnicos vinculados à extensão rural oficial, em fase de capacitação.

Nesse momento, ficou cabalmente demonstrado que a mudança de uma situação de prejuízo e descapitalização para outra de lucro e melhoria de condição social, só depende do incremento dos índices zootécnicos, principalmente no tocante à redução dos intervalos entre partos, o percentual do número de vacas no rebanho total de cada propriedade, além da utilização mais racional das áreas de terra disponíveis.

Se esses técnicos tiverem efetivamente o apoio institucional para darem resposta à dúvida daquele produtor da palestra de 1997, então estaremos diante do verdadeiro “Ovo de Colombo”.

Profissionais capacitados tecnicamente, com locomoção e liberdade para cumprirem metas. Especialização gradativa de profissionais nas principais cadeias produtivas do estado. Instituições públicas e privadas participando, de forma integrada, desse esforço de desenvolvimento.

É justo que, se assim for, metas sejam estabelecidas e cobradas.

E é bom que se diga que a produtividade leiteira em terras fluminenses gira em torno de 370 litros de leite por hectare de terra destinada à atividade, a cada ano, e que o índice previsto é de 10 mil litros anuais, por hectare. Uma boa meta seria atingirmos, entre os produtores assistidos, o desempenho de mil litros por hectare.

Estaremos, assim, diante de boa e concreta justificativa para o investimento feito pela sociedade na manutenção do sistema público de assistência técnica e extensão rural.

Por Alberto Figueiredo, engenheiro agrônomo e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).