Uma revisão brusca nos números da segunda safra de milho, a safrinha, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), determinou previsão de recorde de grãos para 2009/10. A estimativa, que era de redução de 3,4% na área do cereal, agora é de ampliação de 3%, com 150 mil hectares a mais, principalmente em Mato Grosso. Isso significa que a produção deve crescer 19,5%, para 20,7 milhões de toneladas. Considerando as 15 principais culturas, a previsão da Conab passa para 146,31 milhões de toneladas – 2,2 milhões a mais que o teto de 144,1 milhões atingido em 2007/08. Em março a previsão era de recorde na soja e safra total de grãos de 143,9 milhões. Os novos números foram divulgados nessa quarta-feira (7).
A notícia de recorde na produção reflete aumento no rendimento por hectare, mas a ampliação da área do milho preocupa o setor. Isso porque há excesso de oferta e as novas previsões indicam que os estoques devem passar de 11 milhões de toneladas no fim do ano, pressionando os preços já considerados baixos. Esse estoque de passagem ainda terá revisões porque a segunda safra, cultivada em época de clima menos favorável, envolve mais riscos que a primeira, afirma o assessor técnico-econômico das cooperativas do Paraná, Robson Ma-fioletti. Ele considera que os novos números são negativos para a rentabilidade do milho.
O Paraná, segundo a própria Conab, reduziu a área da segunda safra de milho em 10%, para 1,36 milhão de hectares. No primeiro ciclo, houve redução de mais de 20%. O novo recuo é atribuído justamente à pressão sobre os preços, que nessa quarta-feira (7) estavam a R$ 14 a saca no Paraná e a R$ 9,5 em Mato Grosso. O custo passa de R$ 14 por saca nos dois estados.
Até março, a Conab previa que seriam plantados 164 mil hectares a menos de milho na segunda safra em todo o Brasil, na comparação com o mesmo período do ano anterior. O superintendente da companhia em Mato Grosso, Ovídio Miranda, considera que os produtores matogrossenses apostam no cereal prevendo apoio do governo na hora da comercialização, e que fazem essa opção não somente pela rentabilidade, mas por questões técnicas como a rotação de culturas.
Os novos números da Conab estão em linha com a última previsão do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária, o Imea. Os técnicos da entidade calculam que o cereal, com plantio finalizado, cobre 1,81 milhão de hectares. A Conab aposta em 1,88 milhão.
O Imea também elevou sua previsão de produção no último mês, de 8,26 milhão para 9,56 milhão de toneladas do cereal. A variação é de 10,5%, sustentando aumento de 19,4% em relação ao volume colhido um ano atrás. A Conab prevê 8,95 milhão de toneladas para Mato Grosso e 5,59 milhão para o Paraná. Juntos, os dois estados devem colher 40,6% da segunda safra nacional de milho. O volume nacional extra na segunda safra, 3,38 milhões de toneladas, é igual ao estoque atual de Mato Grosso, que ainda não escoou mais de um terço da produção de um ano atrás.
Os técnicos do Imea afirmam que o reajuste dos números neste mês, após o término do plantio da safrinha, reflete o “bate martelo” dos produtores. O instituto avalia que o plantio de milho em 32% da área de grãos reflete preocupação técnica e mostra que o produtor tenta diluir os custos do ano mantendo sua estrutura de produção ocupada no inverno.
Clima dá lastro a reajustes
O bom volume de chuvas nas áreas de maior produção sustentam as previsões de recordes, segundo a Conab. Se confirmada a safra de 146,3 milhões de toneladas, o avanço será de 8,3% sobre as 135,1 milhões de toneladas produzidas em 2008/09. A soja, principal cultura, passa de 57,16 para 67,38 milhões de toneladas, com avanço de 17,9%.
As chuvas esperadas para o verão mantêm-se constantes até agora em todo o Sul e no Centro-Oeste. As previsões levadas em conta pela Conab indicam que haverá precipitações acima da média de São Paulo ao Rio Grande do Sul por mais três meses. O quadro é atribuído pelos meteorologistas ao fenômeno El Niño.
O maior índice de ampliação da produção nesta safra, considerando todos os grãos, é do Paraná. O estado, que enfrentou forte seca na safra passada, avança 20,4% na colheita de grãos. Em seguida vem Mato Grosso do Sul, com 18,2%. Mato Grosso tem 6,6% de aumento.
O Paraná foi o estado que mais apostou na soja no verão, com incremento de 435 mil hectares (10,7%). Mato grosso acrescentou 359 mil hectares à oleaginosa (6,1%). O País já colheu dois terços da safra de soja.
Este é o sétimo levantamento da safra 2009/10 divulgado pela companhia. Os números abrangem os 15 principais grãos da agricultura brasileira. Trabalham no levantamento 68 técnicos da Conab. De 15 a 26 de março, eles contaram com apoio de agrônomos e técnicos de instituições públicas e privadas das principais regiões produtoras.
Em Brasília, o recorde foi anunciado pelo ministro da Agricultura, Wagner Rossi, que assumiu o posto uma semana atrás. Ex-presidente da Conab, ele deu tom político à divulgação. “O novo ministro aumentou brutalmente a produção”, brincou Rossi, segundo as agências de notícias. “A safra é fruto do trabalho do produtor brasileiro e também do forte apoio que o governo tem dado à agricultura”, disse.