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Economia

Câmbio deve travar avanços no G-20

Impasse e tensão crescem num momento em que guerra cambial se torna questão central das discussões.

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O impasse persistia e a tensão subia ontem entre os EUA, a China, o Brasil e os seus respectivos aliados sobre como tratar de intervenções no câmbio, questão central da guerra de moedas, jogando dúvidas sobre progressos na cúpula do G-20 que começa hoje.

Uma dose de desânimo levou certos negociadores a ironizar que a China só valorizará sua moeda “na próxima dinastia”. Com relação aos EUA, as atas do Federal Reserve, o BC americano, chamavam atenção por analisar sua política monetária como se o resto do mundo não existisse, o que explica a facilidade em criar liquidez que afeta o resto do mundo.

Nas discussões em Seul, foi confirmado o entendimento de os países do G-20 caminharem na direção de uma taxa de câmbio determinada pelas forças do mercado e que reflita os fundamentos de suas economias.

Mas as divergências são firmes no parágrafo seguinte. Os países se comprometeram “a não adotar desvalorizações competitivas de suas moedas”, como já acertado no encontro de ministros de Finanças e banqueiros centrais, há três semanas, os membros do G-20.

Mas o texto preliminar trouxe em colchetes, com apoio de países como EUA e Alemanha, a decisão de ampliar o compromisso para que os membros do G-20 também “não adotem medidas que freiam a valorização de moedas justificadas pelos fundamentos do mercado”, numa evidente alusão à China. Pequim pediu a abolição da frase. O Brasil a colocou em colchetes, o que significa que não há acordo e é necessário ainda negociar.

Igualmente nesse contexto, o Brasil insistia para os emergentes terem reconhecido o direito de impor “medidas macroprudenciais”, a outra maneira de mencionar controle de capital, para frear fluxo excessivo de recursos em suas economias. Mas outros países, incluindo os EUA, queriam um compromisso vago e mais genérico.

A batalha milimétrica por vírgulas e termos ilustra a enorme resistência dos países superavitários, que não querem se comprometer em acelerar a demanda interna, e os deficitários, como os EUA, que têm pressa para exportar para criar mais empregos em casa.

O presidente americano, Barack Obama, desembarcou em Seul com a intenção de reduzir os crescentes atritos com seus parceiros sobre o afrouxamento monetário. Em Nova Déli recebeu o endosso da Índia. Na Indonésia, jogou o charme de ter sido criado lá para atenuar a pressão sobre ele. E, chegando à capital coreana, enviou uma carta a todos os outros membros do G-20.

Mas há dúvidas se a carta vai atenuar ou causar mais discórdias. Obama insiste que a recuperação global depende também da saúde da economia americana. Mas logo passa a cobrar que economias com crescimento econômico baseado nas exportações devem ampliar sua demanda doméstica, ou seja, importar mais também.

“Um reequilíbrio das fontes da demanda global, juntamente com taxas de câmbio determinadas pelo mercado, que revertam subvalorização significativa, são a melhor base para uma mudança necessária para trazer uma recuperação vigorosa e balanceada que todos queremos”, diz Obama na carta.

Os EUA estão na defensiva no G-20. O ministro Guido Mantega chegou dizendo que as “bandas indicativas” propostas pelos americanos para limitar a 4% o superávit ou déficit das contas correntes realmente não entram no documento. No entanto, tarimbados negociadores não têm dúvidas de que na primeira ocasião Washington voltará com sua proposta.

É difícil os líderes irem além do que foi acertado pelos ministros de Finanças, há três semanas. Ou seja, muita generalidade não servirá para desarmar o confronto cambial. Daí o porquê de Mantega chegar atacando os EUA e o dólar.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje a Seul para participar da cúpula do G-20. A presidente eleita, Dilma Rousseff, está na capital sul-coreana desde ontem, juntamente com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.