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Semestre de perdas

Clima favorável às lavouras americanas influencia novas quedas para soja, milho e trigo em junho. Cotações semestrais caíram de 10 a 15%.

Semestre de perdas

O clima favorável ao desenvolvimento das lavouras e incertezas sobre o comportamento da demanda nos próximos meses determinaram novas quedas dos preços médios mensais dos grãos na bolsa de Chicago em junho. Era o carimbo que faltava para coroar um semestre de perdas de 10% a 15% nos mercados de soja, milho e trigo.

Cálculos do Valor Data baseados nas oscilações dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente a de maior liquidez) naquele mercado mostram que, em junho, a maior queda em relação à média de maio foi a do trigo (5,11%), seguida pelas baixas do milho (4,45%) e da soja (1,67%).

O Brasil é o segundo maior exportador de soja do mundo e um dos maiores no caso do milho, ainda que nesta frente a regularidade dos embarques seja menor. No trigo, o país “disputa” a liderança entre os importadores.

“O clima está favorável nos EUA para milho, soja e, consequentemente, trigo, com chuva e calor onde precisa. A demanda está boa, mas a oferta de grãos é muito grande”, afirma Vinícius Ito, analista da Newedge em Nova York.

A pequena desvalorização da moeda chinesa chegou a oferecer alguma sustentação às cotações do trio em Chicago, mas os sinais de desaceleração do crescimento da economia do gigante asiático exerceu pressão contrária no fim do mês, especialmente no mercado de soja. A China é o maior país importador de soja do planeta.

Ontem, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgou um novo e surpreendente relatório sobre área plantada no país capaz de provocar ajustes nos preços no curto prazo. Principalmente no milho, já que a área veio abaixo das expectativas. As cotações do produto dispararam no dia e levaram o trigo de carona.

O risco de ocorrência de La Niña no fim da atual safra americana (2010/11) ainda pesa como fator “altista” para os grãos, mas segundo Renato Sayeg, da Tetras Corretora, a expectativa é menor do que aquela que havia com os efeitos do El Niño antes do plantio da safra 2009/10 na América do Sul. Ao fim e ao cabo, nada de muito grave aconteceu por aqui.

Em relação ao comportamento de fundos de investimentos nos grãos em Chicago, Ito e Sayeg têm visões distintas. O primeiro lembra que muitos têm perdas no acumulado do ano, estão realizando perdas e tendem a zerar posições. Sayeg vê o movimento no óleo de soja em particular, mas vê retomada das apostas no caso do grão.

Na bolsa de Nova York, o embate entre movimentos financeiros derivados de resultados em outras aplicações e atrelados aos fundamento de oferta e demanda resultou em alta dos preços médios de açúcar, café, cacau e suco de laranja. No critério do Valor Data, apenas o algodão, também suscetível ao clima americano, caiu (0,42%).

Com estoques globais rasos como há muito não se via, o café foi a commodity nova-iorquina que mais subiu entre as mais negociadas pelo Brasil no exterior. O salto na comparação com cotação média de maio foi de 12,58%.

O preço médio do açúcar, que já despencou em 2010 sob influência de uma liquidação especulativa após máximas em quase três décadas – também alcançadas com o empurrão da especulação -, subiu 2,76% sobre maio. Também tiveram valorizações em Nova York em junho o cacau (0,59%), que aparece com quadro de oferta escassa, e o suco de laranja (0,52%), graças à ameaça de furacões que ainda paira sobre os pomares da Flórida.

Em Nova York, açúcar e cacau fecharam junho com cotações médias mensais inferiores às de dezembro de 2009, mas café, suco e algodão registraram altas.