Redação (31/08/06)- O volume de recursos liberado para o setor agrícola no Brasil caiu à metade entre 1986 e 2004 (últimos dados disponíveis no Banco Central). Em cifras padronizadas aos valores de 2004, o crédito rural passou de R$ 81,4 bilhões para R$ 40,4 bilhões, uma contração de 49,7%, revela estudo feito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Contraditoriamente, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor agrícola cresceu, nas duas últimas décadas, 3,6% ao ano, alguns degraus acima do crescimento econômico total, que ficou em apenas 2,1% ao ano. A explicação, apontam os técnicos André Sant”Anna e Francisco Marcelo Ferreira, é basicamente a mudança na estrutura do crédito, que deixou de ser um subsídio usado por ruralistas para especular com terras e no mercado financeiro, para se destinar de fato à produção agrícola.
O estudo “”Crédito rural: da especulação à produção””, está publicado na última edição do boletim “”Visão do desenvolvimento””, elaborado pelo banco. Faz um detalhado histórico sobre a evolução do crédito e revela a inacreditável dimensão que chegou a ter o subsídio estatal na década de 80, quanto a taxa de juros real nos empréstimos rurais alcançou o patamar negativo de 34,6% ao ano.
O Sistema Nacional de Crédito Rural, instituído em 1965, realizava empréstimos a taxas de juros nominais fixas, por meio principalmente do Banco do Brasil, com emissão de moeda pela chamada Conta Movimento. A partir dos anos 80, com a hiperinflação, o descontrole foi total. “”Era um contexto de aceleração da inflação, a assunção de créditos a taxas de juros fixas baixas representava, na prática, um forte subsídio implícito aos tomadores. Estes, na prática, podiam aplicar recursos do crédito rural diretamente no mercado financeiro a taxas muito mais elevadas, realizando substanciais ganhos financeiros””, mostra o estudo.
A partir dos anos 90, quando o crédito passou a ser vinculado à produção, houve retomada do crescimento agropecuário. Ferreira ressalta que não apenas a estrutura de crédito mudou, mas também o próprio comportamento dos ruralistas. “”Temos hoje uma nova safra de empresários agrícolas. O padrão é muito diferente. Passaram a ser realmente empresários””, diz o economista.