Tirando a falta de chuva e a previsão de altas temperaturas em algumas localidades, a safra norte-americana de grãos vai muito bem, obrigado. Por enquanto, o clima no Corn Belt, cinturão de produção do país, tem dado suporte para que a colheita deste ano ultrapasse os 88 milhões de toneladas de soja e 375 milhões de toneladas de milho previstos pelo Departamento de Agricultura do país, o USDA. Na medida em que as perspectivas otimistas vão se confirmando, porém, o mercado se prepara para assistir a uma oscilação maior das cotações de soja, milho e trigo nos próximos meses. O rally climático, que geralmente ocorre em agosto, neste ano já começou a movimentar os preços na Bolsa de Chicago e tende a ganhar maior intensidade em julho, quando as lavouras começam a entrar na fase crucial de desenvolvimento.
A entrada antecipada da safra no Hemisfério Norte aliada às perspectivas de aumento da área plantada com soja na América do Sul – que devem se consolidar no segundo semestre – sinalizam pressão de baixa sobre os preços, apontam analistas. No Brasil, é o milho que deve sentir o peso maior da colheita nos Estados Unidos. “Na soja temos escassez de produto no mercado interno. No milho tem excesso”, considera Flávio França Júnior, analista da consultoria Safras e Mercado, de Porto Alegre (RS). De acordo com Júnior, considerando a colheita safrinha de milho, o Brasil deve fechar o ano com volume excedente recorde, em torno de 15 milhões de toneladas. “Precisamos exportar uns 10 milhões para sobrar 5 milhões ou 6 milhões de toneladas. Ainda assim, teríamos um estoque alto”, destaca. Mas, por enquanto, as vendas externas de milho do Brasil não somam um terço do volume necessário para aliviar o quadro interno de oferta excessiva. Já as de soja foram aceleradas neste ano, o que impede o país de brigar pelo mercado internacional no segundo semestre. Diferente do ano passado, quando o comércio exterior brasileiro foi movimentado durante todo o ano.
Jack Scoville, analista norte-americano da Price Futures, com sede em Chicago (EUA), acredita que os preços da soja devem continuar de lado na Bolsa de Chicago pelo menos até julho. É a partir desse mês que o clima tende a movimentar as cotações com maior intensidade. “A grande incógnita é a China. Se a América do Sul tiver uma grande safra de soja no próximo ano, não sei se a China vai continuar aumentando as compras dos Estados Unidos. Com isso, os estoques do país precisarão ser reajustados para cima”, avalia ele.
O analista da Safras e Mercado acredita que, mesmo com uma grande safra de soja, os Estados Unidos não vão conseguir recompor seus estoques em níveis confortáveis, o que tende a amenizar as quedas projetadas para a segunda metade do ano. Ele pondera, no entanto, que o dólar é uma variável importante e imprevisível para o agricultor brasileiro. “Câmbio a R$ 2 é sinônimo de crise. Não dá para imaginar que essa cotação vai durar muito tempo”, alerta Júnior. Sem arriscar numa cotação para moeda norte-americana, o analista acredita que os preços no segundo semestre dificilmente compensarão as altas registradas nos primeiros meses do ano, ou seja, quem vendeu antecipado, pode ter acertado em cheio. Para ele, a variável chave do momento é a safra norte-americana sobre a qual é “difícil apostar contra neste ano”.
“Agora o mercado está trabalhando com altos rendimentos, mas ainda há muito tempo pela frente”, acrescenta Scoville, de Chicago.