Com os novos números de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em mãos, o mercado deixou de lado o pessimismo com a economia mundial e voltou a apostar na escassez, o que impulsionou os preços dos grãos na Bolsa de Chicago.
Os contratos de milho para entrega em setembro fecharam com valorização de 3,26%, no nível mais alto de julho, cotados a US$ 6,64 por bushel. Os vencimentos do trigo avançaram 5,12%, para US$ 6,72 por bushel, patamar mais elevado em oito semanas. A soja subiu apenas 0,66%, a US$ 13,5550 por bushel, mas registrou a sétima alta consecutiva – maior sequência de ganhos desde dezembro.
O mercado foi impulsionado pelas estimativas do USDA para os estoques de passagem da safra 2011/12, que começa oficialmente em setembro. O recuo momentâneo do dólar em relação a uma cesta de moedas também estimulou o movimento.
O milho foi o centro das atenções em Chicago. O USDA elevou em 25%, para 22,1 milhões de toneladas, sua previsão para os estoques americanos, mas o número ficou abaixo das 26 milhões de toneladas esperadas pelos agentes do mercado. Mesmo com o aumento em relação à previsão de junho, os estoques antes da colheita de 2012 deverão atingir o menor patamar desde 1996. O volume é praticamente idêntico ao da safra que termina em agosto, mas corresponde a apenas 50% daquele armazenado ao fim do biênio 2009/10.
Isso apesar da produção local recorde, estimada em 342 milhões de toneladas. De acordo com o USDA, o incremento na produção será todo absorvido pela demanda. Só a produção de etanol deverá consumir quase 131 milhões de toneladas – um recorde. Analistas de mercado avaliam ainda que o USDA subestimou o volume de exportações para a China. A avaliação é de que os embarques, projetados em 2 milhões de toneladas, podem ser até duas vezes maior.
Os dados do USDA também mexeram com o mercado de trigo. O USDA elevou para 57,3 milhões de toneladas sua estimativa para a produção americana, mas a alta foi insuficiente para fazer frente a um consumo total de 65 milhões de toneladas. Em todo o mundo, os estoques deverão cair cerca de 4%, apesar do aumento de 2% na produção mundial, estimada em 662,42 milhões de toneladas.
Os números da soja ficaram dentro do esperado pelo mercado – o que explica a variação menor dos preços – mas também preocupam. De acordo com o USDA, os Estados Unidos vão produzir 87,77 milhões de toneladas da oleaginosa, o que significa o segundo ano seguido de queda. Os estoques de passagem foram estimados em 4,8 milhões de toneladas, 12,13% menos que no ano passado. Segundo analistas, os números revelam um frágil equilíbrio entre oferta e demanda da oleaginosa. “Os estoques de soja estão em patamares historicamente baixos e muito sensíveis a qualquer problema com a produção”, avalia Steve Cachia, analista da corretora Cerealpar.
Flávia Moura, analista da corretora Newedge, lembra que os números de produção não são definitivos. Este período do ano é tradicionalmente dominado por incertezas sobre o tamanho da safra. “O clima quente e seco no Meio-Oeste dos Estados Unidos ainda pode comprometer a produção. A tendência é que tenhamos um mercado com muitas especulações até agosto, quando o cenário começa a se definir.”
Na direção inversa, o mercado de algodão teve forte baixa. O USDA reduziu suas estimativas para a exportação e elevou as de estoque.